Jean-Baptiste Regnault - La Educación de Aquiles por el Centauro Quirán (1782)
A excessiva ocupação tem as suas consequências. Em vez de um texto novo um recuperado do meu antigo blogue averomundo.
Em novo lera muitos livros, mas chegado aos trinta anos descobrira que
tanta informação pouco ou nada o fizera aprender. Decidiu, então, ler um só
livro o resto da vida, mas lê-lo continuamente até descobrir o segredo que lá
se ocultaria. Hesitou. Talvez a Bíblia devesse ser o livro escolhido, ou o D.
Quixote, porventura a República. Por fim, elegeu a Ilíada. Ao fim de
dez anos, sentiu que ainda assim havia excesso de palavras e o progresso na
aprendizagem era pouco. Decidiu que apenas leria, mas leria total e
completamente, o chamado catálogo das naus. E assim fez durante outros dez
anos. No dia do quinquagésimo aniversário a razão segredou-lhe que o melhor
seria apenas ler um e só um verso. Aí não teve dúvidas. Escolheu o primeiro da
Ilíada, pois nele está já contido todo o poema. Dia após dia, mês após mês, ano
após ano, lia ininterruptamente: «Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles, o
Pelida». Quando fez oitenta anos, já há vinte, de manhã à noite, que apenas lia
uma palavra: «cólera». A morte surpreendeu-o pela tarde luminosa de um dia de
Junho. A face mantinha o sorriso de quem aprendera a suavizar o coração. A
boca, porém, diz quem o viu, continuava a dizer pausadamente có-le-ra,
có-le-ra, có-le-ra…
Não sei se faz sentido, mas lembrei-me de Garcia Marques e de uma das suas obras maiores.
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Talvez faça, mas quando escrevi isto, o que me pareceu ser fonte de inspiração foi o Jorge Luís Borges.
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