Aulas e mais aulas, apoios e, para acabar o dia, uma reunião. Uma daquelas
que passaram a ser o objectivo especializado da escola portuguesa. Tudo isso
é um contributo para continuar a recuperação de textos do meu antigo
blogue averomundo, retirado de
circulação. Este texto pertence a uma série denominada cadernos do esquecimento. Texto de
16.09.2009.
Um artista tem uma imaginação prática. Ela impele-o para a realização,
para a transformação da matéria em novos objectos, singulares e irrepetíveis. A
imaginação prática do artista é uma imaginação produtora, demiúrgica. Eu também
sou um ser de imaginação, mas a minha não é prática. Ela é um nevoeiro onde
fico retido. Nada nela me impele a agir, a transformar, a tornar concreto.
Sofro de imaginação pura, de uma imaginação que odeia o concreto e o
concretizar-se. Uma imaginação pura é uma imaginação sonâmbula. Sofrer de
sonambulismo é um destino tão nobre como outro qualquer, como o de ser artista,
por exemplo. Desde sempre me lembro de sofrer de uma imaginação assim,
sonâmbula, de uma imaginação que armadilha o corpo, que rompe os laços com o
real, que destrói, uma a uma, as fibras da vontade. Por vezes finjo que sou um
ser da razão, mas isso é apenas um penoso exercício exterior, uma máscara
social, o mínimo que me permite pagar as contas. Para além disso, há apenas um
nevoeiro de imagens sortidas, de coisas que vão e vêm, de um fascínio que me
prende na quietude dos dias. Talvez exista, ou tenha existido, algum povo
assim. Esse seria o meu povo.
Um texto muito complexo que por manifesta incompetência não me atrevo a comentar. Mas creio que pela mesma razão e outras não gostaria de fazer parte desse povo.
ResponderEliminarUm abraço meu Caro Jorge
Talvez esse povo não fosse assim tão mau, apenas sonhador.
EliminarAbraço