A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Associamos a ideia de cidadania à ideia de inclusão. Ser cidadão
significa ser reconhecido como fazendo parte de uma certa comunidade política,
a qual confere um conjunto de direitos e exige um conjunto de deveres. No
conceito de cidadania, todavia, não se pensa apenas a inclusão. Dele faz parte
a exclusão do estrangeiro. Para perceber o que se passou no referendo suíço,
onde foi aprovada uma drástica limitação à imigração proveniente da União
Europeia, convém não esquecer este lado – o de promotor de exclusão – do
conceito de cidadania. Ser cidadão é fazer parte de um clube onde o direito de
admissão é reservado, muito reservado.
Esta ideia de clube selecto e reservado é fundamental para percebermos
o que se está a desenhar por essa Europa fora. Não são apenas os suíços que
querem limitar a entrada de imigrantes. Difunde-se, um pouco por toda a Europa,
um espírito de exclusão em nome dos interesses dos cidadãos nacionais. O que se
está a passar? Em nome de um capitalismo globalizado, assiste-se à liquefacção
– para usar um termo de Zygmunt Bauman – das fronteiras. Capitais, mercadorias
e pessoas – na generalidade, mão-de-obra – fluem de um lado para o outro,
segundo os humores dos mercados e os interesses daqueles que dominam esses
mercados.
Este fluir de dinheiros, produtos e gentes tem por consequência – e por
objectivo – desagregar os direitos sociais, conferidos pelos estados nacionais,
que suportavam e davam conteúdo material aos direitos cívicos. Isto gera uma
grande pressão sobre o modo de vida dos europeus, começando naqueles que
possuem empregos menos diferenciados, mas atingindo já as classes médias.
Quando muitos esperariam que a resposta à contínua política de liberalização
fosse uma inclinação das populações para soluções políticas de esquerda, o que
se está a passar é precisamente o contrário. Um pouco por todo o lado – embora
o fenómeno ainda não esteja presente em Portugal – é a extrema-direita
nacionalista e iliberal que cresce.
As pessoas em vez de procurarem soluções fundadas na solidariedade e
na defesa comum dos instrumentos de bem-estar comunitário – protecção social,
saúde e educação públicas –, entregam-se ao sentimento de exclusão que está
presente na ideia de cidadania. Perante a desgraça que a economia globalizada
representa para o modo de vida dos europeus, a resposta que está a ser encontrada
– como um amuleto contra essa mesma desgraça – é escorraçar os ainda mais
desgraçados, é fortalecer o velho nacionalismo e reanimar velhos ódios. Nada
disto é novo. Por duas vezes, no século passado, foi o caminho, um triste
caminho, para a guerra mundial.
O cenário é inquietante, reconheço, apesar de ainda acreditar num golpe de rins para a esquerda ,desta esquerda que necessita urgentemente de rever a sua postura e mudar a mensagem.
ResponderEliminarTambém me preocupa a cumplicidade dos nossos emigrantes ao trilhar "estes caminhos". Repare que eu escrevi "peocupa" e não "surpreende"...
Tenha um bom fim-de-semana meu Caro Jorge
Um abraço
Os tempos são difíceis e não é claro o caminho a trilhar. Gostava que a esquerda tivesse esse tal golpe de rins, mas , por vezes, parece-me impossível. Seja como for, o mundo precisa de se reequilibrar. Alguma coisa terá de acontecer.
EliminarUm bom fim-de-semana, caro JRD.
Abraço