Jean-Léon Gérôme - Interior Grego (1848)
O filósofo de origem sul-coreana Byung-Chul Han tem um livro com o
título A Agonia de Eros composto por
sete pequenos ensaios. No primeiro, “Melancolia”, questiona as leituras
sociológicas da deserotização do mundo. Há algo mais, nesse destino de Eros, do que a ilimitada liberdade de
escolha ou as possibilidades infinitas que se abrem ao desejo sexual, segundo
alguma sociologia actual. Não é apenas o excesso de oferta de outros que conduz à crise do amor, mas
também a erosão do outro, o qual
desaparece num “excessivo e ensimesmado narcisismo do mesmo”, sublinha ele como
tese.
A questão pouco terá a ver, a não ser na aparência, com a multiplicidade
de ofertas, com a liberdade de escolha no mercado sexual ou com a questão do
afundamento do self no lago do narcisismo e a consequente
dissolução do outro. É preciso ir mais longe do que vai, neste ensaio, Byung-Chul
Han. Tudo isso são efeitos que não têm em consideração o próprio Eros. A agonia de Eros, a sua exaustão, nasce da sua libertação. Ao libertar-se definitivamente,
pelo menos nas nossas sociedades e com todas as reservas que merece uma
afirmação definitiva, o Eros das
garras apolíneas que o subjugavam e continham a sua força propulsora, ele foi
obrigado a expandir-se, e nessa expansão começou a perder a potência que fazia
dele o assombramento dos homens.
A verdadeira agonia de Eros,
o estado moribundo em que se encontra, deve-se ao fim daquilo que lhe opunha
resistência. Quando se fala da libertação que a revolução sexual iniciada nos
anos sessenta do século passado trouxe, não se compreende muito bem o que se
está a dizer. A libertação não significa a emancipação dos seres humanos dos
velhos preconceitos tidos como castradores do desejo. A libertação significa
literalmente o fim da resistência que Eros
tinha que vencer para se manifestar e triunfar. Ora essa resistência fazia
parte da razão de ser do próprio Eros.
Desaparecida, a ele não restou senão a expansão ilimitada até ao fim das suas
forças, o que o conduziu à exaustão e à agonia onde se encontra, para
contentamento das almas puritanas.
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