Já que estamos em época natalícia, convém retornar a uma questão
essencial: O Ocidente, em geral, e a Europa, em particular, ainda precisam do
Cristianismo? Não será a religião cristã um produto obsoleto e, por isso mesmo,
descartável? Vivemos numa era em que tudo se dissolve rapidamente, os produtos,
os costumes, as funções económicas e os papéis sociais. A modernidade tem no
seu núcleo central este princípio destruidor e transformador do modo de vida
dos homens. É natural que muitos pensem que, numa época como a nossa, uma
religião nascida há dois mil anos seja um anacronismo inútil ou mesmo
prejudicial ao triunfo do que, a cada instante, se apresente como moderno.
Perante o actual estado de coisas, defendo a tese oposta. O
Cristianismo é essencial para o Ocidente e, em particular, para a Europa. É um
factor de conservação. Há que defendê-lo e ter a esperança que, onde a
indiferença ou a negação religiosa tenham posto em causa o núcleo central dos
valores cristãos, possa haver uma reversão. Três argumentos para defender esta
tese.
Em primeiro lugar, se o mundo moderno, criado pelo Ocidente, tem uma
natureza destrutiva, se tudo é, pela acção social e económica, constantemente
destruído, então é necessário a existência de um núcleo de valores e de
instituições que resistam, permaneçam e sirvam de referência aos homens e de
elo entre as gerações. Esse núcleo, no mundo ocidental, é-nos dado pelo Cristianismo
e, como pólo institucional, pelas Igrejas, nomeadamente a Igreja Católica.
Em segundo lugar, os valores fundamentais que ainda presidem à nossa
cultura têm a sua origem no Cristianismo ou, se originados no mundo
greco-latino, foram por ele retrabalhados e tornados disponíveis pela acção de
dois milénios das Igrejas cristãs. Sem o Cristianismo, o nosso núcleo de
valores – valores que inspiram coisas tão diversas como a caridade cristã, os
devaneios marxistas sobre o homem novo, a separação entre a Igreja e o Estado,
etc., etc. – perde sentido, tornando ainda mais precária a forma como nós,
ocidentais, nos relacionamos com a vida e o mundo.
Em terceiro lugar, não há, a longo termo, vazios religiosos. Se o Cristianismo
desaparecer, outra religião acabará, cedo ou tarde, por ocupar o seu lugar,
matando os valores com que temos sido educados, matando, essencialmente, a
liberdade, um dos valores centrais que o Cristianismo ajudou a implantar e a
respeitar no mundo ocidental.
Depois da desilusão com as ideologias – essas pseudo-religiões
políticas –, não resta ao homem ocidental, para permanecer como tal, senão o Cristianismo.
Um bom Natal para todos.
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