Goerge Seurat - Gray Weather
Que se suba até ao berço das
nações, ou que se desça até aos nossos dias, que se examine os povos em todas
as posições possíveis, desde o estado de barbárie até ao de civilização mais
refinada, encontrar-se-á sempre a guerra. Por esta causa, que é a principal, e
por todas aquelas que se lhe juntam, a efusão de sangue humano nunca está
suspensa no universo: umas vezes ela é mais fraca sobre uma superfície maior,
outras é mais forte numa superfície mais pequena, de maneira que ela é quase
constante. Mas de tempos a tempos há acontecimentos extraordinários que a
aumentam prodigiosamente, como as guerras púnicas, os triunviratos, as vitórias
de César, a irrupção dos bárbaros, as cruzadas, as guerras religiosas, a
sucessão de Espanha, a Revolução francesa, etc. Se houvesse uma tabela de
massacres como há tabelas meteorológicas, quem sabe se não se descobriria,
ao fim de alguns séculos de observação, a lei que os rege? [Joseph de
Maistre, Considérations sur la France]
Para além de mostrar a essência da História universal, a guerra e a
efusão de sangue humano, Maistre faz, meio ironicamente, uma curiosa sugestão.
Construir tabelas de observação dos massacres em analogia com as tabelas feitas
na meteorologia. Esta aproximação a uma certa cientificidade da História,
feita em finais do século XVIII, é muito mais interessante do que a de Marx,
feita posteriormente. Marx e Engels estavam fascinados pelo desenvolvimento da
Física e da Química, e sonhavam com uma legalidade histórica idêntica àquela
que determina os acontecimentos naturais. A irónica proposta de Maistre abre a
História não à necessidade, presente nas leis da Física clássica de Newton, mas
à probabilidade e à previsão, como acontece com a meteorologia. O que faz dele, epistemologicamente,
um contemporâneo. Um mistério, o facto de um reaccionário ser mais moderno do
que os revolucionários posteriores. (averomundo
2009/10/14)
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