Papa Francisco (foto daqui)
A mensagem do Papa às jornadas da juventude tem duas notas que sublinham a dificuldade da Igreja Católica nos tempos que correm (ver aqui). A primeira diz que a verdadeira experiência na Igreja não é uma "flashmob". Uma flashmob, como a própria notícia explica, é uma concentração espontânea e de curta duração de pessoas num lugar público. Pretende assim o Papa reafirmar que uma instituição como a Igreja exige compromisso e persistência no tempo. A questão nasce do confronto entre as tendências existentes naquilo que Zygmunt Bauman classifica como sociedade líquida, a nossa, e tudo o que pressupõe a solidez que permite enfrentar o desgaste do tempo. A nossa sociedade deixa-se retratar, na verdade, como uma flashmob, onde pessoas e coisas se manifestam por instantes e desaparecem do espaço público. Liquefazem-se e correm a dissolver-se na indiferenciação dos oceanos. A crença religiosa dificilmente se poderá desligar do destino que atinge todo o resto da realidade social.
E isto é dramático para a Igreja Católica. O drama está expresso na seguinte passagem: temos de aprender a fazer com que os eventos do passado se convertam numa realidade dinâmica, para reflectir sobre ela e obter ensinamentos e um sentido para o nosso presente e o nosso futuro. A Igreja Católica, ao contrário das Igrejas protestantes, vive da tradição, dessa conexão entre o passado remoto e o futuro por vir. Se tudo, porém, se dissolve em encontros espontâneos que logo se desfazem, as próprias condições de manutenção de uma tradição desaparecem. Mesmo nos países de maioria católica há uma espécie de triunfo do protestantismo e da sua negação da autoridade da tradição. Não por acaso, se assiste, nesses países, à propagação de Igrejas evangélicas. De certa maneira, elas estão intimamente ligadas ao espírito do tempo, à vida líquida em que se transformou a existência nas actuais sociedades ocidentais. Evocar uma longa linha e continuidade, entre um passado longínquo e os dias de hoje pouco sentido faz para quem vive no e para o instante. E é isto que, nos dias de hoje, parece atormentar o Vaticano.
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