Pablo Picasso - La comida del ciego (1903)
O artigo de Pacheco Pereira (ver aqui) sobre as
possibilidades da emergência de movimentos populistas em Portugal chama
atenção para o grande abandono (é o
título do artigo) que os partidos votaram uma franja significativa da
população. É aí, como acontece nos EUA e na Europa, que movimentos fora do establishment político encontram a força
propulsora para os seus projectos políticos. Não é isso que me interessa aqui,
embora concorde com o teor do texto, mas a cegueira que acomete os
protagonistas políticos. Esta cegueira dos actores políticos, uma cegueira que não
deixa perceber as tempestades que se vão avizinhando, é interessante porque,
olhando a história, parece inevitável.
Podemos dizer que as ideologias, com os
seus universos formatados, impedem a visão do realidade. E isso faz sentido. No
entanto, podemos fazer uma interpretação diferente e de cariz mais metafísico,
digamos assim. E se uma parte da realidade social fosse, na verdade, invisível,
mesmo para os olhos melhor treinados? Essa invisibilidade seria uma espécie de
garantia da não perenidade das coisas. Uma realidade social que fosse
completamente visível seria mais facilmente domesticável e as mutações mais
raras. A invisibilidade de uma parte da dinâmica social seria assim a condição
de possibilidade da eclosão do novo (independentemente da valoração que se faça
desse novo). Se meditarmos a tragédia Édipo Rei, de Sófocles, não é isso que
encontramos?
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