segunda-feira, 13 de março de 2017

A invisibilidade

Pablo Picasso - La comida del ciego (1903)

O artigo de Pacheco Pereira (ver aqui) sobre as possibilidades da emergência de movimentos populistas em Portugal chama atenção para o grande abandono (é o título do artigo) que os partidos votaram uma franja significativa da população. É aí, como acontece nos EUA e na Europa, que movimentos fora do establishment político encontram a força propulsora para os seus projectos políticos. Não é isso que me interessa aqui, embora concorde com o teor do texto, mas a cegueira que acomete os protagonistas políticos. Esta cegueira dos actores políticos, uma cegueira que não deixa perceber as tempestades que se vão avizinhando, é interessante porque, olhando a história, parece inevitável. 

Podemos dizer que as ideologias, com os seus universos formatados, impedem a visão do realidade. E isso faz sentido. No entanto, podemos fazer uma interpretação diferente e de cariz mais metafísico, digamos assim. E se uma parte da realidade social fosse, na verdade, invisível, mesmo para os olhos melhor treinados? Essa invisibilidade seria uma espécie de garantia da não perenidade das coisas. Uma realidade social que fosse completamente visível seria mais facilmente domesticável e as mutações mais raras. A invisibilidade de uma parte da dinâmica social seria assim a condição de possibilidade da eclosão do novo (independentemente da valoração que se faça desse novo). Se meditarmos a tragédia Édipo Rei, de Sófocles, não é isso que encontramos? 

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