John
White Abbott - Landscape with Abraham and Isaac
A história do sacrifício de Isaac pelo seu pai, Abraão (ver Génesis 22:2 e seguintes), como todas as narrativas bíblicas pode ser tomada em diversos sentidos. Uma leitura religiosa dirá que se está perante um teste à fé de Abraão, à capacidade deste responder a uma exigência absoluta de Deus sem hesitar ou ser tomado pela dúvida. Uma leitura diferente, não religiosa, pode ser feita do episódio. Do ponto de vista civilizacional, podemos estar perante a simbolização do momento em que os sacrifícios humanos, uma prática generalizada, perdem sentido. O absoluto da fé substitui o absoluto da morte.
É evidente que esta transformação civilizacional tem um preço e esse preço está expresso na própria narrativa. Trata-se de substituir a morte da vítima a imolar pela fé absoluta em Deus. Esta fé é, desse modo, um holocausto, onde as dúvidas, pretensões e desejos do indivíduo são entregues em sacrifício. A derrota da barbárie nasce da subjectivação e espiritualização do sacrifício. Já não se trata de imolar uma vítima exterior, mas de auto-imolar-se, como forma não apenas de agradar a Deus mas também de permitir que os homens vivam uns com os outros. Nenhuma sociedade é possível se os seus membros não tiverem interiorizado a necessidade de uma auto-imolação mínima.
É evidente que esta transformação civilizacional tem um preço e esse preço está expresso na própria narrativa. Trata-se de substituir a morte da vítima a imolar pela fé absoluta em Deus. Esta fé é, desse modo, um holocausto, onde as dúvidas, pretensões e desejos do indivíduo são entregues em sacrifício. A derrota da barbárie nasce da subjectivação e espiritualização do sacrifício. Já não se trata de imolar uma vítima exterior, mas de auto-imolar-se, como forma não apenas de agradar a Deus mas também de permitir que os homens vivam uns com os outros. Nenhuma sociedade é possível se os seus membros não tiverem interiorizado a necessidade de uma auto-imolação mínima.
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