A minha crónica em A Barca de Março de 2017.
No próximo ano lectivo, nos anos iniciais de ciclo, vamos
ser confrontados com novas reestruturações da orgânica educacional. Está em
discussão o Perfil de saída dos alunos à
saída da escolaridade obrigatória, Perfil para o Século XXI, e estão
previstas alterações curriculares e o que mais se verá. Quem está na docência
há mais de trinta anos já nem se pergunta se o que vem aí é bom ou mau. O
problema é bem mais profundo do que as hipotéticas virtudes ou possíveis vícios
de uma nova intervenção na estrutura da educação. Ao fim de tantas
experiências, os professores mais velhos – e hoje em dia quase todos os
professores são bem antigos – estão vacinados contra a veia reformadora que
atinge os ocupantes da 5 de Outubro.
Na verdade, nunca se sabe por que razão aquilo que vai ser
posto de lado é abandonado. Não há avaliação séria de nada. A única coisa que
parece clara é que a política educativa é meramente conjuntural. Mudam as
maiorias governativas e a educação é vítima de uma reestruturação que parece
querer mudar tudo, de ponta a ponta, mesmo quando os ministros – e os
secretários de Estado – evitam falar de Reforma da Educação, uma expressão
gasta e com má reputação. Por norma, os resultados destas aventuras são sempre
bastante estimulantes. As escolas tornam-se espaço de mil reuniões e os
professores vêem crescer a burocracia a que têm de dar seguimento para mostrar
que aplicam com vigor as alterações estipuladas. Este é o principal efeito do
espírito reformador dos governantes – de qualquer cor política – dentro das
escolas. Os professores assistem a isto resignados e à espera que venha o
próximo gabinete ministerial que trucidará estas políticas e trará novas, com
os mesmos resultados.
As consequências do espírito reformista dos dirigentes
políticos da educação são dignas de registo. Depois de tantas reformas e
reestruturações, depois de tanto dinheiro gasto em escolas novas, conseguimos
ter uma educação a funcionar para o século XIX. O principal problema não está
naquilo onde os políticos podem mexer. A questão centra-se na cultura das
escolas. Esta cultura é muito mais resistente do que os ministros e os
governos. Ela está assente em longas tradições e em organizações escolares
estruturalmente burocráticas e conservadoras, que são reforçadas pela própria
estrutura material dos edifícios escolares (mesmo os das escolas novas), pela
formação docente, pela necessidade de prestação de provas imposta pelo
Ministério e pelo afã reformador desse mesmo Ministério, o qual, com tantas
alterações, gerou uma cultura de resistência docente, cujo resultado é mudar
tudo para que tudo fique na mesma. É o que irá acontecer mais uma vez.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.