A minha crónica no Jornal Torrejano.
Assisti há dias, na escola onde lecciono, a uma intervenção
da Yorn Inspiring Future que, para
além de trazer consigo um conjunto de sessões e workshops, onde 37 universidades e politécnicos tentaram cativar os
alunos do 12.º ano, explicou, numa sessão de pouco mais de uma hora, o processo
de candidatura. Foi a esta sessão que assisti e foi, para mim, verdadeiramente inspiradora.
A candidatura ao ensino superior é um processo burocrático e completamente
desinteressante. O animador da sessão, porém, transformou aquilo num
espectáculo, que, devido aos seus dotes de entertainer
e de comediante, prendeu os alunos do princípio até ao fim. Quem organiza estas
coisas está bem preparado, conhece os auditórios. Sabe adulá-los.
Conforme me comprazia e espantava com a capacidade
comunicacional ali exibida, uma preocupação nascia dentro de mim. Não se
tratava sequer de estabelecer conexão entre o que estava a ver e o célebre
livrinho de Guy Debord, A Sociedade do
Espectáculo. A coisa era mais prosaica. Ao olhar os alunos na sessão ia-se
tornando claro o ideal de professor que, sem ninguém ter consciência disso, se
manifestava. Não é o saber, o rigor científico ou sequer a clareza na
comunicação que são fundamentais. O essencial é que o professor seja um misto
de animador de plateias e comediante. Que saiba transformar os conteúdos
lectivos num espectáculo leve, onde a comédia desempenha um papel central. A
degradação da profissão de professor teve um ponto alto quando se começou a
dizer que os alunos não eram estudantes mas clientes e os professores não
passavam de gestores de aprendizagens. Esta tontice, porém, está ultrapassada.
Os alunos continuam a não ser estudantes. Talvez sejam
clientes, não de aulas mas de espectáculos. O ideal que deverá agora guiar o
professor não é o da ciência e do saber – não são inconvenientes, mas não são o
essencial – mas o da capacidade de animar os alunos, de os entreter, de os
fazer rir. Depois de morta a figura do professor às mãos dos gestores de
aprendizagens, são estes que terão de ceder o seu lugar ao animador-comediante,
que não prepara aulas mas espectáculos. Em tudo isto, há apenas dois problemas.
Olhando para o corpo docente que existe país fora não estou a ver como é que
toda essa gente com idade provecta vai conseguir fazer rir quem quer que seja.
Em segundo lugar, a formação de professores está completamente deslocada.
Técnicas de animação, preparação de comediantes, colecção de anedotas para teenagers continuam a não fazer parte dessa
formação. O que é lamentável, pois falhar-se-á o inspiring future que nos aguarda.
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