Francis Bacon, Figure in a Landscaspe, 1956
Não sei se é necessário ter algum currículo relevante para
presidir à comissão organizadora do Dia de Portugal. Se o é, explica-se o
desconforto sentido por muita gente perante a
escolha do Presidente da República do colunista do Público João Miguel Tavares. Na verdade, o eleito de Marcelo
Rebelo de Sousa é conhecido apenas pela sua coluna de opinião no jornal referido
e pela participação num programa televisivo em que se mistura política e engraçadismo. Como serviço relevante à
comunidade parece pouco para a distinção. O que se passa muitas vezes é que o
PR de serviço escolhe alguém cujo prestígio pessoal sirva para reforçar o prestígio
e a legitimidade social do próprio PR. Foi esta tradição que foi cortada.
Marcelo Rebelo de Sousa não necessita de reforçar a sua legitimidade social e
política. Sente que a tem para dar e vender.
Como explicar então a inusitada escolha de um homem sem qualidades? O actual
Presidente nunca e em circunstância alguma se exime de fazer política. Desde as
selfies que tira com meio mundo até
aos momentos de grande compunção, passando pelos actos triviais da vida
política, tudo é pensado politicamente. E só assim se poderá entender a escolha
deste ano. Na verdade, trata-se de uma mensagem para dentro da direita. Marcelo
Rebelo de Sousa terá sentido que existe, na direita portuguesa, uma pulsão
demasiado securitária, presa a uma inclinação identitária, que muitas vezes se
oculta na retórica liberal para disfarçar o ressentimento e um mau convívio com
a democracia e a diversidade de opiniões. Ora, João Miguel Tavares,
assumindo-se claramente de direita – o que tem o condão de irritar a esquerda –
e liberal, fá-lo sempre dentro de uma perspectiva democrática, onde não existe
vestígio de ressentimento e onde as posições relativamente à liberdade são inequívocas.
A escolha de João Miguel Tavares é uma clara indicação sobre o tipo de direita
que o país necessita, no entender de Marcelo Rebelo de Sousa. Um acto político
de incidência pedagógica para dentro das fileiras a que o actual PR pertence.
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