Fotografia daqui.
“Deve ser seguramente pela cor da minha pele que me pergunta
se condeno ou não condeno os actos de vandalismo em Portugal”, respondeu
António Costa a uma pergunta trivial e retórica de Assunção Cristas. O
inusitado da resposta, ao deslocar a questão política para a questão pessoal e
de etnia, acendeu de imediato o rastilho de um ódio que existe, em certos
sectores da direita social, ao primeiro-ministro. As palavras do chefe do
governo, ao insinuar que haveria por parte do CDS uma atitude racista, são
injustas e deslocadas. No entanto, esta resposta é particularmente
interessante. Ela é aquilo que se chama, em psicanálise, um acto falhado. Costa
disse, num momento de confronto e tensão, algo que ele recalca e que, pelos
vistas, habita no seu inconsciente. Apesar do seu assinalável êxito na
sociedade portuguesa – presidente da maior câmara municipal do país e
primeiro-ministro –, apesar de a sua família paterna fazer parte da casta mais elevada
da Índia, ele não se libertou de não ser completamente europeu. Parece
preocupar-se, efectivamente, com a cor da sua pele. Só uma tensão inconsciente
tão grande explica que uma resposta tão idiota e contrária aos seus interesses
políticos pudesse ter rompido a barreira de censura que todos impõem ao
inconsciente. Que motivos terá o inconsciente de António Costa para se
manifestar assim? É possível que a resposta a esta questão nos diga alguma
coisa sobre o racismo brando que existe em Portugal. E, repito, não se trata do
CDS, partido onde tiveram papel preponderante pessoas com as mesmas origens de
António Costa, sem que isso fosse, para essas pessoas, problema ou obstáculo
para alguma coisa.
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