Tom Wesselmann, TV Still Life, 1965
A história da ida de Mário Machado, um elemento da
extrema-direita com condenações por crimes graves de delito comum, a um programa
de Manuel Luís Goucha, na TVI, sublinhou, mais uma vez, um fenómeno a que
deveria ser dado uma atenção especial. Trata-se do contributo dos canais de
televisão para a criação de um ambiente propício à emergência em Portugal
daquilo a que hoje se convencionou chamar populismo. Há muito que os principais
canais de televisão portugueses perderam um módico de racionalidade. Basta ver
os telejornais para perceber que, a luta pelas audiências, conduz as televisões
à exploração dos instintos mais baixos da população.
Por si, a ida de Mário Machado à TVI é uma irrelevância.
Deixa de o ser se for integrado no contexto da informação e dos programas que
os canais de televisão produzem. Basta ver a forma como investem nos casos que
envolvem políticos, como produzem delírios justicialistas, como exploram
decisões legítimas, embora conflituais, para criarem ambientes de intensa
emotividade, ou como se mostraram melancólicos perante o evidente fracasso dos
coletes amarelos da nossa paróquia. As televisões perceberam há muito que a
destruição da democracia rende audiências e, como estamos a ver cada vez mais
claramente, não terão o mínimo pudor em gerar um ambiente de irracionalidade no
país. Corremos o risco de um dia acordarmos com uma vida política sem controlo,
não porque a situação do país seja grave, mas porque as televisões precisam de
audiências.
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