quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Alma Pátria - 46: Luís Goes, Fado do Estudante




Este fado de Coimbra, interpretado por Luís Goes, é um belo documento sociológico. O fado data de 1958 e dá-nos a visão da mulher amada que deveria habitar, naquela época, a consciência do estudante de Coimbra, isto é, dos candidatos à elite intelectual do país. Hoje em dia não se faz a mínima ideia do peso de Coimbra e da sua Universidade no universo mental e social português daqueles dias. E como deveria ser a mulher digna de ser amada por um estudante de Coimbra? Dois traços essenciais. Devia evitar o contacto com a realidade: “Fecha os olhos de mansinho / Não os abras para ver / Porque a vida de olhos fechados / Custa menos a viver”. Além de cega, devia ser a imagem ou da Virgem ou, na impossibilidade de tão grande elevação, a da própria mãe: “Os teus olhos são tão puros / Que me lembram nem sei bem / Se a mãe de nosso senhor / Se a minha mãe que Deus tem”. O que não deixa de ser uma estranha afirmação de um desejo edipiano.

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