Este fado de Coimbra, interpretado por Luís Goes, é um belo documento sociológico. O fado data de 1958 e dá-nos a visão da
mulher amada que deveria habitar, naquela época, a consciência do estudante de Coimbra, isto é,
dos candidatos à elite intelectual do país. Hoje em dia não se faz a mínima
ideia do peso de Coimbra e da sua Universidade no universo mental e social
português daqueles dias. E como deveria ser a mulher digna de ser amada por um estudante de Coimbra? Dois traços essenciais. Devia evitar o contacto com a realidade: “Fecha os olhos de mansinho / Não
os abras para ver / Porque a vida de olhos fechados / Custa menos a viver”.
Além de cega, devia ser a imagem ou da Virgem ou, na impossibilidade de tão grande elevação, a da própria mãe: “Os teus
olhos são tão puros / Que me lembram nem sei bem / Se a mãe de nosso senhor /
Se a minha mãe que Deus tem”. O que não deixa de ser uma estranha afirmação de um desejo edipiano.
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