Florence Henri, Untitled, USA, c. 1940
Um tic-tac inexorável caía sobre a casa, mas não se avistava nada que o pudesse originar. O som crescia para dentro de mim, corroía-me os ouvidos e o coração. O pior era que perturbava a tarefa que me tinha sido imposta. Empilhar chávenas de café. Eu empilhava-as, enquanto uma voz gritava "mais uma, mais uma". Havia que chegar ao céu, eu bem o sabia. Por vezes, esquecia o tic-tac e tudo era muito claro. É a torre de Babel. E continuava a colocar chávena sobre chávena, sem parar. Um estrondo acordou-me. Ao lado da cama, havia chávenas pelo chão. Umas partidas, outras inteiras. Umas paradas, outras a rolarem. As palavras que então proferi foram numa língua que nem eu próprio entendi.
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