Voul Papaioannou, Boys playing in the schoolyard, Pireus, c.1945
Este estudo
do Público sobre o desempenho dos
alunos nos exames nacionais e o posterior desempenho na primeiro ano da
universidade, efectuado por uma professora da Católica Porto Business School e
outra da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, pode passar despercebido
devido à agitação que os rankings dos
exames nacionais introduzem entre as pessoas que se interessam pela educação em
Portugal. Os resultados do estudo não são propriamente uma novidade e reforçam
estudos anteriores da Universidade do Porto.
Fica patente que as classificações obtidas em exame
não correspondem ao desempenho posterior dos alunos nas universidades. Duas
ideias parecem claras nos estudos estatísticos efectuados. Os alunos do ensino
privado têm melhores resultados em exame, mas são os que vêm do ensino público
que obtém mais sucesso no primeiro ano da faculdade. O segundo efeito
surpreendente mostra que os alunos que vêm de escolas secundárias –
privadas ou públicas, embora com maior relevância nas privadas – com maiores
médias nos exames nacionais têm desempenhos inferiores aos alunos que vêm de
escolas secundárias com médias de exame mais baixas.
Se noutras universidades os dados forem idênticos, então duas
crenças que têm animado o debate na educação nas últimas décadas estão erradas.
A primeira crença é a da superioridade do ensino privado sobre o ensino
público, tal como é atestado pelos rankings.
O desempenho dos alunos no ensino superior desmente essa superioridade. A
segunda crença é a do papel do exame nacional do ensino secundário no
reconhecimento do mérito dos alunos e da consequente justiça na selecção para
entrada nas universidades. Os resultados parecem apontar para um efeito de
protecção, através dos exames, das elites sociais em detrimento do mérito real
dos alunos.
Caso estes estudos recebam novas corroborações, repito, os exames,
que não são capazes de prever de forma claramente positiva o desempenho dos
alunos na universidade, estão a servir para proteger alunos, por norma provenientes
do ensino privado ou de escolas públicas frequentadas pela elite social, que
são inferiores aos alunos de escolas secundárias com resultados inferiores nos
exames nacionais. Este trabalho das Professoras Conceição Silva e Ana Camanho,
pela importância dos resultados a que chegou, precisa de ser ampliado e
replicado noutras universidades, para se compreender a profundidade do problema
e corroborar ou não as conclusões que mostram que o país está a seleccionar mal
os seus recursos para a frequência do ensino superior e, assim, a cometer
graves injustiças na distribuição de um bem raro.
Muito interessante.
ResponderEliminarUm abraço
Obrigado.
EliminarAbraço