domingo, 17 de fevereiro de 2019

Ensino privado? Bons resultados em exame?

Voul Papaioannou, Boys playing in the schoolyard, Pireus, c.1945

Este estudo do Público sobre o desempenho dos alunos nos exames nacionais e o posterior desempenho na primeiro ano da universidade, efectuado por uma professora da Católica Porto Business School e outra da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, pode passar despercebido devido à agitação que os rankings dos exames nacionais introduzem entre as pessoas que se interessam pela educação em Portugal. Os resultados do estudo não são propriamente uma novidade e reforçam estudos anteriores da Universidade do Porto.

Fica patente que as classificações obtidas em exame não correspondem ao desempenho posterior dos alunos nas universidades. Duas ideias parecem claras nos estudos estatísticos efectuados. Os alunos do ensino privado têm melhores resultados em exame, mas são os que vêm do ensino público que obtém mais sucesso no primeiro ano da faculdade. O segundo efeito surpreendente  mostra que os alunos que vêm de escolas secundárias – privadas ou públicas, embora com maior relevância nas privadas – com maiores médias nos exames nacionais têm desempenhos inferiores aos alunos que vêm de escolas secundárias com médias de exame mais baixas.

Se noutras universidades os dados forem idênticos, então duas crenças que têm animado o debate na educação nas últimas décadas estão erradas. A primeira crença é a da superioridade do ensino privado sobre o ensino público, tal como é atestado pelos rankings. O desempenho dos alunos no ensino superior desmente essa superioridade. A segunda crença é a do papel do exame nacional do ensino secundário no reconhecimento do mérito dos alunos e da consequente justiça na selecção para entrada nas universidades. Os resultados parecem apontar para um efeito de protecção, através dos exames, das elites sociais em detrimento do mérito real dos alunos.

Caso estes estudos recebam novas corroborações, repito, os exames, que não são capazes de prever de forma claramente positiva o desempenho dos alunos na universidade, estão a servir para proteger alunos, por norma provenientes do ensino privado ou de escolas públicas frequentadas pela elite social, que são inferiores aos alunos de escolas secundárias com resultados inferiores nos exames nacionais. Este trabalho das Professoras Conceição Silva e Ana Camanho, pela importância dos resultados a que chegou, precisa de ser ampliado e replicado noutras universidades, para se compreender a profundidade do problema e corroborar ou não as conclusões que mostram que o país está a seleccionar mal os seus recursos para a frequência do ensino superior e, assim, a cometer graves injustiças na distribuição de um bem raro.

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