Morreu Arnaldo Matos. O fundador do MRPP (Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado) foi uma personagem destacada nos anos conturbados de 1974 e 1975. Não que o seu partido - uma organização maoista construída a partir de estudantes universitários - tenha alguma vez tido qualquer peso eleitoral. No entanto, a sua retórica radical e tonitruante, aliada à origem social dos seus militantes, acabou por ter acolhimento nos mass media da época e faz plenamente parte do folclore que envolveu a intensa luta política que se travou no país. Arnaldo Matos, um advogado madeirense radicado em Lisboa, foi responsável por muita dessa retórica, que enfeitou com uma tropologia rica, fundada num imaginário proveniente da mitologia comunista de inspiração leninista, estalinista e maoista, a qual nunca deixou de enfurecer os seus adversários - a começar pelos social-fascistas (MRPP, dixit) de vários matizes, isto é, o PCP e todos os grupos de extrema-esquerda que não o próprio MRPP - e fez sorrir os que, à direita dos comunistas, acabavam por acolher aquele palavreado trovejante com bonomia, sabendo que dali não vinha mal ao mundo. Com a morte do grande dirigente e educador do proletariado português - era assim que o partido o apresentava - desaparece mais um protagonista daqueles anos quentes. É o fim simbólico de algo que já acabou há muito, aquele tipo de retórica política com a sua grandiloquência, e que muita gente nunca conheceu ou não tem idade para se lembrar.
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