A minha crónica no Jornal Torrejano.
1. CAIXA GERAL DE
DEPÓSITOS. O que se tem vindo a saber da Caixa Geral de Depósitos dá razão
aos que, na União Europeia, julgam ser necessário impor uma espécie de
protectorado aos países do sul da Europa. O banco do Estado serviu de depósito a
gente que vinha da política e ali encontrou um porto, bom e rico, onde lançar
âncora. E não apenas aportaram confortavelmente como permitiram que a
instituição quase fosse destruída, enquanto um número significativo de empreendedores
se esquecia de liquidar os empréstimos ao banco. Se se quiser um exemplo da
degradação moral da nossa vida política, o que aconteceu durante muitos anos na
CGD é um dos principais candidatos.
2. MARCELO NO BAIRRO DA JAMAICA. O modo
de fazer política de Marcelo tem muitos detractores, tanto na direita como na
esquerda. Contudo, ele tem um papel fundamental no equilíbrio da sociedade
portuguesa. A visita surpresa ao Bairro da Jamaica, no Seixal, e o compromisso
de lá voltar para uma festa dos moradores são um novo sinal que o actual PR tem
um instinto certeiro para apagar fogos. Ser bombeiro era uma possibilidade
inscrita na função presidencial que só agora está a ser descoberta. Felizmente.
3. VENEZUELA. O
actual problema da Venezuela não começou com Maduro. Começou com Chávez e a
chamada revolução bolivariana. Enquanto o petróleo ajudou, as opções erradas
foram sendo disfarçadas, dando a ilusão que se estava a tirar parte
significativa da população da miséria. Quando a realidade mudou, as pessoas
descobriram que a miséria é bem mais persistente do que pensavam. Descobriram
também que não há passes de mágica que resolvam as grandes desigualdades
sociais. Depois, como ensinou Bismarck, a política é a arte do possível.
Quando, em nome do deslumbramento revolucionário, se acha que se pode ir para
além do possível, o mais certo é a miséria estar do outro lado da porta.
4. O PAPA NO CENTRO
DO ISLÃO. A visita do Papa Francisco à península arábica é um acontecimento
da maior relevância. Tanto pela ida do Sumo Pontífice romano como pelo
acolhimento das autoridades islâmicas, com destaque para o xeque Ahmed el-Tayeb.
A conflitualidade religiosa é um dos principais problemas geopolíticos.
Qualquer aproximação entre as diversas autoridades espirituais é um passo para
a difícil pacificação das paixões religiosas. Ninguém imagina que essa paz está
ao virar da esquina. No entanto, é melhor construir pontes entres os homens do
que erguer muros. E o Papa Francisco, contra o desejo de muitos, tem-no feito.
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