sábado, 9 de fevereiro de 2019

Caixa, Marcelo, Venezuela e Papa


A minha crónica no Jornal Torrejano.

1. CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS. O que se tem vindo a saber da Caixa Geral de Depósitos dá razão aos que, na União Europeia, julgam ser necessário impor uma espécie de protectorado aos países do sul da Europa. O banco do Estado serviu de depósito a gente que vinha da política e ali encontrou um porto, bom e rico, onde lançar âncora. E não apenas aportaram confortavelmente como permitiram que a instituição quase fosse destruída, enquanto um número significativo de empreendedores se esquecia de liquidar os empréstimos ao banco. Se se quiser um exemplo da degradação moral da nossa vida política, o que aconteceu durante muitos anos na CGD é um dos principais candidatos.

2. MARCELO NO BAIRRO DA JAMAICA. O modo de fazer política de Marcelo tem muitos detractores, tanto na direita como na esquerda. Contudo, ele tem um papel fundamental no equilíbrio da sociedade portuguesa. A visita surpresa ao Bairro da Jamaica, no Seixal, e o compromisso de lá voltar para uma festa dos moradores são um novo sinal que o actual PR tem um instinto certeiro para apagar fogos. Ser bombeiro era uma possibilidade inscrita na função presidencial que só agora está a ser descoberta. Felizmente.

3. VENEZUELA. O actual problema da Venezuela não começou com Maduro. Começou com Chávez e a chamada revolução bolivariana. Enquanto o petróleo ajudou, as opções erradas foram sendo disfarçadas, dando a ilusão que se estava a tirar parte significativa da população da miséria. Quando a realidade mudou, as pessoas descobriram que a miséria é bem mais persistente do que pensavam. Descobriram também que não há passes de mágica que resolvam as grandes desigualdades sociais. Depois, como ensinou Bismarck, a política é a arte do possível. Quando, em nome do deslumbramento revolucionário, se acha que se pode ir para além do possível, o mais certo é a miséria estar do outro lado da porta.

4. O PAPA NO CENTRO DO ISLÃO. A visita do Papa Francisco à península arábica é um acontecimento da maior relevância. Tanto pela ida do Sumo Pontífice romano como pelo acolhimento das autoridades islâmicas, com destaque para o xeque Ahmed el-Tayeb. A conflitualidade religiosa é um dos principais problemas geopolíticos. Qualquer aproximação entre as diversas autoridades espirituais é um passo para a difícil pacificação das paixões religiosas. Ninguém imagina que essa paz está ao virar da esquina. No entanto, é melhor construir pontes entres os homens do que erguer muros. E o Papa Francisco, contra o desejo de muitos, tem-no feito.

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