sexta-feira, 17 de julho de 2020

E se António Rodrigues?


Se António Rodrigues não se candidatar à presidência do Município, Pedro Ferreira será, sem dificuldade, reeleito. A entrada de António Rodrigues na corrida poderá, contudo, perturbar o passeio dos socialistas. Não conheço estudos de opinião, mas, por certo, a eleição tornar-se-á polarizada entre duas personalidades e duas histórias políticas. Como já se percebeu pelas reacções nas redes sociais após a apresentação, pelo antigo presidente, do movimento P’la Nossa Terra, a batalha será jogada em torno do balanço das realizações e do estilo de persona política. António Rodrigues reivindicará um passado cheio de iniciativa, de capacidade de abrir caminhos que pareciam fechados. Pedro Ferreira falará das dificuldades financeiras que teve de enfrentar e fará transparecer a forma cordata e consensual como rege a sua existência política.

Esta eventual polarização das eleições não deixará de ter efeitos colaterais nas outras forças. Parte dos eleitores do PSD, do BE e até da CDU podem ser tentados a tomar posição e contribuir para a vitória ou para a derrota de um dos candidatos. Numa situação de tensão em que a vitória de um implicará a derrota de outro, irão contar mais as apreciações à história política e à personalidade dos dois candidatos do que as tradicionais fidelidades partidárias. A candidatura de António Rodrigues não é apenas um problema para os socialistas locais. É-o também para as outras forças políticas. Vão ser obrigadas a encontrar um caminho para evitar a tentação dos seus eleitores se dividirem entre as duas figuras em confronto. Depois da surpresa do desaparecimento da CDU da vereação, podemos ter novas surpresas.

Há uma coisa, contudo, que será mais preocupante. Pedro Ferreira e António Rodrigues são da minha geração. Fizeram ambos muito, de uma forma ou de outra, pelo concelho, mas somos velhos, apesar de disfarçarmos. Eu não sou dos que acham que as pessoas mais velhas são uma peste grisalha. Pelo contrário, têm uma sabedoria acumulada muito importante, mas as instituições políticas precisam de sangue novo, de novas gerações. Precisam de gente que tenha nascido já depois do 25 de Abril, que não seja do tempo dos Beatles ou do Woodstock, que veja aquilo que os mais velhos já não conseguem perceber. Isto não tem nada a ver com a capacidade pessoal dos dois possíveis candidatos, mas com a necessidade de sangue novo, de novas ideias, de gente que tenha ainda um longo futuro à sua frente. Se as eleições forem polarizadas pelos dois prováveis candidatos, a necessidade dessa renovação do corpo político local ficará ocultada pelo menos por mais quatro anos.

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