Se António Rodrigues não se candidatar à presidência do
Município, Pedro Ferreira será, sem dificuldade, reeleito. A entrada de António
Rodrigues na corrida poderá, contudo, perturbar o passeio dos socialistas. Não
conheço estudos de opinião, mas, por certo, a eleição tornar-se-á polarizada
entre duas personalidades e duas histórias políticas. Como já se percebeu pelas
reacções nas redes sociais após a apresentação, pelo antigo presidente, do
movimento P’la Nossa Terra, a batalha
será jogada em torno do balanço das realizações e do estilo de persona política. António Rodrigues
reivindicará um passado cheio de iniciativa, de capacidade de abrir caminhos
que pareciam fechados. Pedro Ferreira falará das dificuldades financeiras que
teve de enfrentar e fará transparecer a forma cordata e consensual como rege a
sua existência política.
Esta eventual polarização das eleições não deixará de ter
efeitos colaterais nas outras forças. Parte dos eleitores do PSD, do BE e até
da CDU podem ser tentados a tomar posição e contribuir para a vitória ou para a
derrota de um dos candidatos. Numa situação de tensão em que a vitória de um
implicará a derrota de outro, irão contar mais as apreciações à história
política e à personalidade dos dois candidatos do que as tradicionais
fidelidades partidárias. A candidatura de António Rodrigues não é apenas um
problema para os socialistas locais. É-o também para as outras forças
políticas. Vão ser obrigadas a encontrar um caminho para evitar a tentação dos
seus eleitores se dividirem entre as duas figuras em confronto. Depois da
surpresa do desaparecimento da CDU da vereação, podemos ter novas surpresas.
Há uma coisa, contudo, que será mais preocupante. Pedro
Ferreira e António Rodrigues são da minha geração. Fizeram ambos muito, de uma
forma ou de outra, pelo concelho, mas somos velhos, apesar de disfarçarmos. Eu
não sou dos que acham que as pessoas mais velhas são uma peste grisalha. Pelo
contrário, têm uma sabedoria acumulada muito importante, mas as instituições
políticas precisam de sangue novo, de novas gerações. Precisam de gente que
tenha nascido já depois do 25 de Abril, que não seja do tempo dos Beatles ou do
Woodstock, que veja aquilo que os mais velhos já não conseguem perceber. Isto
não tem nada a ver com a capacidade pessoal dos dois possíveis candidatos, mas
com a necessidade de sangue novo, de novas ideias, de gente que tenha ainda um
longo futuro à sua frente. Se as eleições forem polarizadas pelos dois
prováveis candidatos, a necessidade dessa renovação do corpo político local
ficará ocultada pelo menos por mais quatro anos.
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