segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A natureza do filósofo

Salvador Dali - Filósofo recostado (1938)

Para viver só, há que ser um animal ou um deus - diz Aristóteles. Falta o terceiro caso: importa ser um e outro ao mesmo tempo - filósofo. (Nietzsche, Crepúsculo dos Ídolos: Máximas e Dardos, 3)

Uma das coisas mais absurdas do senso comum escolar, naquilo que se refere à filosofia, é a apresentação do filósofo como um modelo de humildade e de sociabilidade. Nada há de mais indecoroso do que a fábula de S. Sócrates. Isto é não perceber o essencial da actividade filosófica, aliás retratada já muito bem, na época dos pré-socráticos, pelo carácter intratável de Heraclito de Éfeso. A filosofia nasce do espírito de revolta contra a tradição e da arrogância perante a verdade, dada na convicção de a alcançar através da construção de teorias argumentadas. Nietzsche quase tem razão, mas mais teria se dissesse que o filósofo é um animal solitário que tem a presunção de ser um deus. A filosofia não passa de um subtil e distinto exercício de arrogância instintiva, travestido de racionalidade.

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