sábado, 5 de janeiro de 2013

Poema 47 - Retidos na pedra, os arqueiros esperam

Anónimo Prehistórico - Arqueros (Abrigo del Ciervo. Dos Aguas)


47. Retidos na pedra, os arqueiros esperam

Retidos na pedra, os arqueiros esperam.
Imóveis, ouvem o bronze de um sino a haver,
o lamento que perpassa pelos campos
e traça uma fronteira movediça,
negociada entre a vida e a morte,
sob o fulgor da eternidade.

Retidos na pedra, reconheço-os.
Ali vejo a minha face,
o brilhos dos meus olhos à espera da presa,
o arco dos anos que pesa sobre mim,
ao traçar uma corrente
que me ata àqueles dias,
ao passado sombrio e oracular,
a névoa do tempo que me chamou para a vida.

Olho para trás e vejo uma seta,
o rasto daqueles olhos,
o impulso feroz do braço que se soltou
e flutuando no tempo traça um círculo,
onde descubro a voz de uma estirpe,
o sangue frágil de uma herança,
a dívida que nunca pagarei.

6 comentários:

  1. Uma alegoria espantosa. Um poema como uma seta que não falha.

    Um abraço

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  2. Há poemas seus que me fazem muita impressão. Este é um deles. Retidos na pedra. Eu ontem fotografei a minha sombra numa pedra desejando ficar ali gravada, eu ou parte de mim. Eu, eu retida na pedra na pedra que não morre.

    Este seu poema é fantástico, muito belo.

    Parabéns.

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  3. As vezes vc acerta mesmo na mosca!!!!

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    Respostas
    1. Não se pode falhar sempre. Uma vez ou outra há que acertar. Talvez, por acaso.

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