sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O ano de 2013

A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.

O ano de 2013 não vai ser um bom ano. Este pessimismo persistente que evidencio nestas crónicas não se deve a um traço psicológico ou de carácter. A realidade não deixa que as ilusões se sobreponham às profundas preocupações com a situação social, económica e política. Para adensar o clima, acabo de ler uma entrevista antiga, de Fevereiro de 2012, dada por Toni Negri ao ionline. Negri esteve ligado à extrema-esquerda e chegou a estar preso acusado de terrorismo. Más credenciais, mas a sólida formação filosófica e o conhecimento da política global, bem como a perda de qualquer ilusão fazem dele um autor que merece ser lido e escutado, mesmo que não se partilhe, como é o meu caso, das suas soluções. 

Negri faz uma síntese dos elementos que estão na base desta crise (transformações tecnológicas ao nível da informática, mutações políticas, globalização da economia e o fim do modelo fordista de capitalismo e a transição para o capitalismo financeiro), para depois evidenciar a preocupação e o pessimismo com que analisa a situação e a possível saída para a crise. Conclui: ”Nestas condições, em que não há uma saída objectiva para a crise, a guerra tornou-se uma possibilidade”. Negri não fez uma profecia, apenas sublinhou que a guerra – nas actuais circunstâncias – se tornou uma possibilidade. Nada disto se alterou. 

Para além dos factores sublinhados por Negri, há ainda outros três que têm peso na actual situação. Por um lado, a crise ambiental e ecológica que afecta o planeta e não permite grandes ilusões sobre uma sociedade fundada no consumo de massas. Por outro, a crise demográfica. Para ser mais correcto, as crises demográficas, pois se há crises por defeito na Europa, noutros lugares haverá por excesso. Por fim, desemprego estrutural e que, com a robotização e informatização do trabalho, tenderá a consolidar-se e a aumentar. 

Demografia, ambiente, desemprego, fim da democracia (reduzida a um mero ritual), globalização e capitalismo financeiro desregulado (resta saber se seria, no quadro tecnológico actual, regulável) trazem em si uma certeza e uma possibilidade. A certeza é que seremos quase todos drasticamente mais pobres, cada vez mais pobres, enquanto um núcleo reduzido de seres humanos, à escala global, multiplicará a sua riqueza e o seu poder. Para além disto, parece restar-nos uma possibilidade e essa é a que assinala Negri, a guerra. Será isto a luz ao fundo do túnel? Boa sorte.

2 comentários:

  1. Ainda que de forma mais atenuada também partilho do seu pessimismo. Aliás recordo Saramago quando diz que um optimista ou é estúpido, ou insensível ou milionário.
    No entanto ainda tenho dúvidas sobre a guerra que se perfilará no horizonte.
    É que, se assim acontecer, quando chegarmos ao fim do túnel,à luz, nem sequer restarão pedras para fazer uma nova guerra...à pedrada.

    Um abraço e bom fim-de-semana

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    1. A questão da guerra parece-nos inverosímil. Tanto por nos termos habituado à paz desde 45, tanto por as duas guerras mundiais terem sido devastadoras, tanto pelo arsenal disponível que poderia acabar com a vida na terra. Não sendo uma inexorabilidade, sendo a penas uma mera possibilidade, ela pode surgir com uma configuração muito diferente daquela que estamos habituados. Na verdade, o conflito já existe e a forma como certos países estão a lidar com o problema do défice dos países do sul tem efeitos de destruição social (não me refiro a vidas) tão grandes quantos os de uma guerra. Enfim, esperemos que a possibilidade nunca deixe de ser uma mera possibilidade e que a sensatez e o equilíbrio voltem à Europa.

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