“O liberalismo económico propunha-se resolver o problema dos
trabalhadores pelo habitual processo implacável de os forçar a trabalhar com
salários de miséria ou a emigrar.”
Eric Hobsbawm, A Era das Revoluções
A citação de Hobsbawm, em epígrafe, refere-se à Inglaterra da década
de trinta do século XIX e não a Portugal do século XXI. No entanto, não há
qualquer diferença. No essencial, o liberalismo é uma doutrina estática, que
adopta, com poucas variações no tempo e no espaço, as mesmas receitas. A
aplicação destes receitas é antecedida por campanhas de puro terror.
Primeiramente, através da violência física e da perseguição das pessoas,
depois, quando a violência física se tornou mal vista, através da coacção
psicológica e moral.
É no âmbito deste exercício de terror sobre as populações que deve ser
entendido o famigerado documento que o governo português encomendou a um
conjunto de técnicos do FMI. A sua função é lançar um sentimento de medo na
sociedade portuguesa, em especial na função pública, para criar as condições
para que as pessoas aceitem rescisões de contratos que o Estado não quer honrar
e a degradação dos serviços públicos de saúde, educação e protecção social.
Muitos comentadores acham o documentam inexequível e feito por técnicos
que não conhecem a história do país, que não percebem que Portugal foi um
Estado antes de ser uma nação, que esse mesmo Estado, no último quartel do
século XX cresceu para responder a problemas reais da sociedade e com vista a
evitar uma perigosa ruptura social. Tudo isso é verdade, mas… O problema é que
o liberalismo é uma doutrina racional abstracta, que não toma em consideração a
história das sociedades e as suas tradições. Para o liberalismo, o fundamental
é a destruição das tradições e dos mecanismos de solidariedade que a história
dos povos foi institucionalizando. História, tradições, solidariedades, tudo
isso deve ser destruído em nome da eficiência económica, da mercardorização dos bens sociais e da
competição no mercado.
Quando as doutrinas liberais se apoderam, sem contrapesos, de um
Estado, como acontece neste momento em Portugal, a única coisa que se poderá
esperar são salários miseráveis para a generalidade da população, direitos
sociais mínimos e, como salienta Hobsbawm, a emigração, essa forma pouco subtil
de matar tradições e destruir solidariedades. Para se alcançar esse fim, não se
olha a meios. Se preciso for, deita-se mão ao medo, transformando muitos actos
e discursos políticos em puras campanhas de terror contra a população.
Claro como água. Não nos podemos é deixar dominar por esse medo. Há que reagir, sair deste estado letárgico, voltar à rua.
ResponderEliminarVeremos se há força de reacção.
EliminarO Liberalismo leva os trabalhadores a emigrar para outros Países, sendo que alguns destes se regem pela mesma doutrina e daí pode resultar uma espiral absurda.
ResponderEliminarSedo uma doutrina estática, podemos também classificá-la como regressiva, porque parece quer recuperar o esclavagismo.
Depende de nós.
Bom fim-de-semana
Abraço
O esclavagismo talvez não, mas as condições do início da Revolução Industrial não se importaria.
EliminarBom fim-de-semana.
Abraço