terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O index da Opus Dei

Carmen Calvo - Censura (1999)

É tão cómodo ser menor. Se tenho um livro que faz as vezes do meu entendimento, um director espiritual que por mim tem consciência, um médico que por mim decide a respeito de minha dieta, etc., então não preciso de me esforçar. Não tenho necessidade de pensar, quando posso simplesmente pagar. Outros se encarregarão em meu lugar dos negócios desagradáveis. A imensa maioria da humanidade (inclusive todo o belo sexo) considera a passagem à maioridade difícil e além do mais perigosa, porque aqueles tutores de bom grado tomaram a seu cargo a supervisão dela. (Immanuel Kant, Resposta à pergunta "O que é o Iluminismo")

Esta e esta notícias sobre a censura de obras escritas pela Opus Dei criaram, como não podia deixar de ser, burburinho. Uma afronta, escreveu-se. Um exagero, digo eu. Bem, talvez haja mesmo afronta, mas a quem? Fui tentar perceber o fenómeno. Não sei se os membros da Opus Dei são proibidos de ler certas obras. Julgo que a questão não é essa. É disponibilizado um site (ver aqui) onde os livros são classificados relativamente à doutina e moral da Igreja, segundo a óptica da organização. Não vejo qualquer problema nisso. Desde que não haja interferência directa ou indirecta na liberdade pública, cada um pode recomendar este ou aquele livro ou dizer que aqueloutro é pouco recomendável. Não me sinto afrontado pelo index da Opus Dei.

Se alguém pode ser afrontado pelo index são os próprios membros da Opus Dei, uma organização da elite social e religiosa católica. A organização não confia na capacidade crítica dos que fazem parte dela e nas suas convicções e sente necessidade de, paternalmente, tutelar-lhes o entendimento. Pessoalmente, detestaria pertencer a uma organização que me dissesse que uma determinada obra é incompatível com a doutrina que eu professasse. A minha convicção e o meu juízo crítico seriam suficientes para a apreciação. Mas se há quem goste...

2 comentários:

  1. Como diria Marx, versão Groucho, jamais entraria para uma organização que me “aceitasse como sócio” e, ainda por cima, impusesse limites à minha opção de escolher as leituras, as músicas, os filmes, etc.
    Liberdade é isso e também a de aceitar essas regras e condicionamentos e entrar...

    Mas, mais grave é quando uma organização, laica ou religiosa, quer impor baias a terceiros que nada têm a ver com ela e a Opus Dei, entre muitas outras, é especialista nessa prática.

    Um abraço

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    1. E talvez nessas práticas até nem seja a coisa onde ela é mais especialista.

      Abraço

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