Durante muito tempo, julguei que António José Seguro tinha o perfil de
um antigo sacristão de uma paróquia de província. Precipitação minha. Seguro
não é um mero ajudante de sacristia, mas um capo
inovador. O secretário-geral do PS inaugurou, em Portugal, uma nova forma de
fazer política. Podemos chamar-lhe política zen. Seguro não age e quase não fala. Espera, silencioso e em
quieta contemplação, que o poder venha até ele. O PS de Seguro não se
compromete com a direita, pelo menos sem eleições, e muito menos se compromete
com a esquerda. Se o leitor, porém, pensa que Seguro é equidistante tanto das
actuais malfeitorias da direita como das divagações utópicas da esquerda, então
está equivocado. Equidistante significaria que Seguro ainda estaria num
determinado lugar político. Não está.
Ao optar por uma política zen,
Seguro entregou-se à meditação transcendental, exercício silencioso que o
conduziu à levitação. Seguro levita, paira acima do espaço onde o jogo político
se desenrola, enquanto os portugueses sofrem os resultados das políticas da troika de credores, dos seus
agentes governativos nacionais e do efeito conjugado de dezenas de anos de
irresponsabilidade – para ser simpático – da troika nacional, PS, PSD e CDS. Por vezes, António José Seguro
articula uns sons. Prestamos atenção e parecem palavras. Não são. São balbucios
inócuos, talvez a repetição de um mantra,
que ele usa para acalmar a mente, combater as paixões e tranquilizar o coração.
É assim, com um ar seráfico e translúcido, que António José Seguro espera
que o poder suba até ele. Enquanto paira nos ares olhando com fastio a
realidade nacional, sonha com os milhões de votos que lhe hão-de dar a maioria
absoluta. Para quê? Aqui nem o silêncio nem a placidez de Seguro conseguem
ocultar o programa que germina nas suas meditações. Quando o actual governo se
derrotar a si mesmo, António José Seguro deixará o transe e entrará em acção.
Substituirá, decidido e sem piedade, o pessoal do PSD/CDS por gente do PS e,
com um ar compungido, continuará, sem um arrepio na consciência, a obra de
destruição em curso. A essência da política zen é o compromisso com o não compromisso, para mais
livremente obedecer a quem efectivamente manda no mundo e na Europa. Imagina
quem? Resta saber se os portugueses serão compreensivos com a subtileza
estratégica da política zen e
estarão dispostos, outra vez, a entregar novo cheque em branco a mais um
desbiografado que, disfarçado de monge, sonha ser rei.
Como muitos dos políticos em fase transição para o poder, AJS é encimado por uma espécie de halo de rigor que caracteriza os invertebrados da política.
ResponderEliminarNão admira pois, a táctica que utiliza para concretizar o seu sonho, que será, provavelmente, o prolongamento do nosso pesadelo.
Um abraço
Se chegar ao poder, e isso não é líquido, AJS vai prolongar o pesadelo. Vai-lhe acontecer, ao nível da nossa paróquia, aquilo que está a acontecer com Hollande.
EliminarAbraço
Excelente. :) E já me ri :)
ResponderEliminarObrigado.
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