A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Este estranho termo, dissonância cognitiva, refere-se ao conflito
interior provocado pela existência de duas crenças inconciliáveis. Lembrei-me
deste conceito devido à Exortação Apostólica, Evangelii Gaudium, do Papa
Francisco. A dissonância cognitiva atinge, neste momento, um apreciável número
de pessoas que, sendo católicas, apoiam as políticas do actual governo, bem
como a orientação da economia mundial. Será possível a um católico suportar e
aplicar estas políticas? Vejamos o que diz o Papa.
Podemos começar pela questão da relação entre economia e violência:
"Mas, enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade
e entre os vários povos será impossível desarreigar a violência. Acusam-se da
violência os pobres e as populações mais pobres, mas, sem igualdade de
oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno
fértil que, mais cedo ou mais tarde, há-de provocar a explosão (§ 59)." Isto é,
as actuais políticas geram violência e guerra, pois fomentam a exclusão. A sua
avaliação da economia global, aquela que nos arrastou para a presente situação,
é demolidora: ”Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da
maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio
provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a
especulação financeira. (§ 57)”. Ou então: "Os mecanismos da economia actual
promovem uma exacerbação do consumo, mas sabe-se que o consumismo desenfreado,
aliado à desigualdade social, é duplamente daninho para o tecido social" (§
60).
Mas a afirmação mais decisiva surge no § 53: "Assim como o mandamento
«não matar» põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, assim
também hoje devemos dizer «não a uma economia da exclusão e da desigualdade
social». Esta economia mata." O Papa diz, taxativamente, que a actual
orientação da economia e das políticas que a suportam mata, e ao matar infringe
o mandamento divino "não matarás!". Dito de outra maneira, o prosseguimento
deste tipo de políticas é, do ponto de vista religioso, um grave pecado mortal.
Percebo o drama dos católicos apoiantes da actual governação. Como
poderão conciliar os seus interesses e visões ideológicas ultra-liberais com uma
religião que sempre professaram e cuja autoridade máxima veio agora dizer o que
disse? Como poderão aceitar que as suas opções políticas e económicas são não
apenas imorais, mas homicidas, violando gravemente a tábua dos dez mandamentos?
De facto é bizarro. Ou têm a mente debilitada ou a carteira recheada. Mas o mal não é só "destes" católicos, antigamente muitos apoiaram as politicas do estado novo.
ResponderEliminarBom fim-de-semana
Abraço
Não foram apenas os católicos, foi a hierarquia em peso, apesar de haver honrosas excepções.
EliminarBom fim-de-semana
Abraço