sexta-feira, 14 de março de 2014

A nova ordem


Se olharmos para os signatários do manifesto para a reestruturação da dívida podemos ficar surpreendidos pela origem tão diversa das personalidades que o subscrevem. Gente de direita, do centro e de esquerda. Gente ligada à investigação e à Universidade. Empresários e sindicalistas. Esta miscelânea deveria ditar um afastamento entre estas pessoas e não a sua confluência num gesto de afrontamento à política seguida pelo governo. O que as unirá? Aquilo que as une é o passado. Representam o passado e a velha ordem moral do mundo. Nesta gente ainda ressoa um sentimento de piedade sobre o destino dos homens e a necessidade da política ser um lugar de equilíbrio entre as pretensões rivais das várias partes.

A reacção de Passos Coelho foi a esperada. Ele e o seu governo não pertencem a esse velho e moribundo universo, não aceitam a decrépita ordem moral do mundo, nem julgam que a piedade e a compaixão tenham qualquer lugar na política. Para Passos Coelho o manifesto é irrealista, pois assustaria os mercados. Na verdade, o manifesto é irrealista não porque assuste os mercados, mas porque põe em causa os objectivos políticos deste governo. Mais do que isso, este manifesto é irrealista porque seria uma forma de impedir o advento em Portugal da nova ordem moral do mundo, ordem essa que é o objectivo fundamental das políticas governamentais.

O que significa esta nova ordem trazida pela governação Passos Coelho? Significa em primeiro lugar a libertação, cada vez mais acentuada, das forças do mercado, eliminando as formas sociais de regulação, deixando os actores jogarem o jogo em conformidade com as suas forças. Quem for forte terá a recompensa da sua força, os fracos serão punidos pela sua fraqueza. Significa em segundo lugar, a progressiva destruição dos mecanismos de segurança e de solidariedade alicerçados no Estado. A política, nesta nova ordem, não se preocupa com o exercício piedoso de cuidar das pessoas. Cada um deverá cuidar de si até ao mais ínfimo pormenor, senão puder, paciência.

É para este admirável mundo novo que o governo nos encaminha, sem o mínimo de pudor ou qualquer peso na consciência. É contra este mundo que o manifesto foi publicado. Seja como for, com ou sem manifesto, estamos a aprender uma dura lição: o futuro já não é o lugar da esperança, como a minha geração e as anteriores pensaram. O futuro pode ser o mais negro dos lugares. A nova ordem moral que o governo incensa, o sítio de todas as injustiças.

2 comentários:

  1. Permita-me que que lhe diga que o Passos Coelho não passa de um lacaio revanchista (que em tempos retornou...) promovido a capataz pelos poderes -ocultos- que todos conhecemos.
    Vai levar a sua missão de perfídia até ao fim sem receio dos que, ao longo do mandato, se foram demarcando com ou sem manifestos.
    Em Belém está um dos seus garantes, mesmo que, por vezes, disfarce.

    Um abraço

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    1. Também estou convencido, há muito, que o governo, com PPC e PP à cabeça e sustentados pelo PR, vão levar o seu trabalho de destruição até muito longe. Têm, o que não é de admirar, uma matilha bem treinada na comunicação social e, sempre que o confronto de opiniões se perfila no horizonte, a matilha ladra raivosamente e ameaça tudo e todos. Estes são tempos de grande intolerância.

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