Recuperação
de textos do meu antigo blogue averomundo,
retirado de circulação. Este texto pertence a uma série denominada cadernos do esquecimento. Texto de 30.09.2009.
Quando escrevo poesia dou comigo a encher o poema de demonstrativos.
Este, esse, aquele, contracções entre a preposição de e os demonstrativos, etc.
É como se um impulso vindo do inconsciente, daquilo que há mais fundo em mim,
quisesse falar e mostrar o que sou. Um falso poeta, onde a voz da filosofia, ou
da dogmática filosófica, vem sempre ao de cima, como se um verso pudesse ser a
conclusão de um silogismo. Esta voz da demonstração é uma voz da razão
imperativa, tão imperativa e tão determinante que, mesmo no delíquio do
metaforizar, encontra caminho para se fazer ouvir. Ou talvez seja ainda pior, o
resto de um velho instinto, enfraquecido pelo torpor, para ordenar o mundo, um
instinto político. Acabado o poema, fico sempre com o trabalho de exterminar os
demonstrativos, como se disfarçasse os instintos mais arcaicos e reprováveis.
Esta espécie de vertigem que por vezes sinto quando sinto que não consigo comentar postes como este.
ResponderEliminarUm abraço
Talvez os próprios postes tenham sido escritos sob alguma vertigem.
EliminarAbraço