Ticiano - O dinheiro do tributo (1535-40)
Eu que não sou dado a ódios odeio certas palavras. Mal as oiço fico indisposto.
Note-se que essas pobres palavras são originariamente inocentes e, na verdade,
não têm culpa nenhuma do uso que delas fazem os homens. Por exemplo, odeio as
palavras pedagogia e estratégia, mas isto são contas de um
rosário mais antigo. A palavra empreendedorismo
faz-me urticária e é sumamente odiosa, tal a invasão de empreendedorismos que houve nos últimos anos. O meu ódio nasce de
usarem até à exaustão este tipo de palavras para esconder a realidade, de tal maneira que elas
acabam por não significar nada.
Nestes últimos tempos ganhei um ódio especial à palavra contribuinte.
Por dois motivos. Em primeiro lugar porque, ao ser usada a torto e a direito,
ela perde o seu valor semântico e o contribuinte torna-se um nada sempre
disponível para contribuir. Em segundo lugar porque a minha relação com o
Estado não é meramente fiscal. Eu, como qualquer um de nós, sou um cidadão e é
essa relação que o Estado deve respeitar. O cidadão tem direitos e deveres. O
contribuinte têm apenas o dever de pagar. Quando certos partidos se dizem
partidos de contribuintes, eu fico logo mal disposto. Quando dizem que defendem
os contribuintes, dá-me vontade de rir. Dispenso que me defendam enquanto contribuinte. Prefiro ser respeitado enquanto pessoa e cidadão. Se o fizerem, em vez de encherem a boca com a palavra contribuinte, limitarão ao indispensável o
confisco dos bens.
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