Caravaggio - Siete obras de misericordia (1607)
Não deixa de ser notável o esforço do Papa Francisco - agora ao lançar o jubileu da misericórdia - nesta sua luta contra o espírito do mundo. Na sua origem, cristianismo e mundo estavam de costas voltadas. Depois, um prolongado casamento entre esse mesmo cristianismo e o poder político tornou-o muito mundano e, não raras vezes, pouco misericordioso. Lentamente, porém, como se estivesse a voltar à sua condição original, o cristianismo foi-se tornando, outra vez, suspeito aos olhos do mundo. Na verdade, o conjunto de valores trazidos pelo seu fundador chocam-se com aqueles que dominam e superintendem os destinos da humanidade.
Trazer a misericórdia para o centro da vida religiosa dos católicos não pode ser entendido apenas em contraponto com a violência que corre no mundo, com a cultura de vingança que destrói a capacidade de perdoar e de conviver. A misericórdia não é apenas o perdão. Tem uma outra perspectiva, a da compaixão com a nossa própria espécie. E é nisto que ela é uma afronta aos valores do nosso mundo. A compaixão para connosco é o outro lado da nossa finitude e da nossa fragilidade. Nós somos seres falíveis e a misericórdia é o reconhecimento dessa nossa falibilidade estrutural. Tudo isto se tornou estranho a um mundo moldado na ideia de eficácia e que pune exemplarmente quem é falível e ineficaz. Ser compassivo e misericordioso num mundo dominado pela a eficácia é uma terrível afronta ao espírito desse mundo.
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