José Luis Ansón - Magia
Acabámos de dizer que a magia
tende a assemelhar-se às técnicas, à medida que ela se individualizava e se
especializava na persecução dos seus fins. Mas há, entre estas duas ordens de
factos [magia e técnica], mais do que uma similitude exterior: há identidade de
função, pois uma e outra, (…), tendem para os mesmos fins. (…) Ela trabalha no
mesmo sentido que trabalham as nossas técnicas, indústrias, medicina, química,
mecânica, etc. [Marcel Mauss, Teoria Geral da Magia – Conclusão]
Se Marcel Mauss diz que a magia tende assemelhar-se à técnica, não se
poderá inferir que a técnica se assemelha à magia? Melhor, que a técnica é uma
forma de magia? Mas se for assim pensada, não encontramos uma base para
explicar a capacidade de fascinar que a técnica possui? Esta capacidade de
fascínio não reside tanto na paixão que a modernidade devota às possibilidades
da técnica, mas no facto desta [isto é, das suas realizações] permanecer
praticamente inquestionada.
Mas se se admitir a técnica como uma forma de magia, deveremos
conduzir o inquérito mais longe. O que está na base da técnica? A ciência
moderna. E o que está na base da ciência moderna? A lógica, o pensamento
racional. Isso significa, então, que a ciência e o próprio pensamento racional
ainda seriam modalidades do pensamento mágico. Argumentar-se-á que a
indistinção entre pensamento mágico e pensamento racional não ajudará a
explicar nem um nem outro. Talvez, mas não seria desinteressante explorar a
comunidade que existirá entre eles.
Uma coisa, porém, poderia encontrar um princípio de explicação na
continuidade entre pensamento mágico e pensamento racional: o problema de um
mundo racionalizado produzir fenómenos absolutamente irracionais. Por exemplo,
o planeamento familiar conduzir à inexistência de famílias. Por exemplo, a
racionalidade presente no extermínio dos judeus pelo nazismo. Por exemplo, a
organização racional das instituições conduzir a formas de vida institucionais
absolutamente inumanas. (averomundo,
2007/09/10)
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