JCM - Símbolos, Signos e Sinais (Presépio) (2014)
A minha crónica mensal em A Barca.
Julgo que durante toda a minha vida sempre fui fiel ao Natal, ao presépio, a esse mistério supremo do filho de Deus nascer num estábulo perdido na periferia do grande mundo. Mesmo nos tempos de maior furor racionalista, esse acontecimento falava dentro de mim. Mesmo nos dias de hoje, em que o Natal foi tomado pela agenda do consumo, em que o esplendor de um Deus nascido nas palhas parece ofuscado, espero com ânsia esse momento supremo onde o Filho de Deus vai tornar a nascer. Esta contínua fidelidade tem a mais estranha das origens.
Julgo que durante toda a minha vida sempre fui fiel ao Natal, ao presépio, a esse mistério supremo do filho de Deus nascer num estábulo perdido na periferia do grande mundo. Mesmo nos tempos de maior furor racionalista, esse acontecimento falava dentro de mim. Mesmo nos dias de hoje, em que o Natal foi tomado pela agenda do consumo, em que o esplendor de um Deus nascido nas palhas parece ofuscado, espero com ânsia esse momento supremo onde o Filho de Deus vai tornar a nascer. Esta contínua fidelidade tem a mais estranha das origens.
Ela foi a herança que recebi de um não crente, do não crente mais
consumado que conheci até hoje. Foi esse não crente que fez para mim o meu
primeiro presépio, aquele de que tenho plena consciência. Era um presépio
magnífico. Com musgo, caminhos de areia, rios de prata, altos rochedos, a gruta
onde o Menino, nas palhas, era o desvelo da Sagrada Família, de um anjo, dos
animais, de alguns pastores. Ao longe uma caravana, os Reis Magos, avançava
lentamente, dirigida por uma estrela. E sobre esta paisagem e os seus
habitantes havia um céu de papel azul enxameado de estrelas e uma lua. Na
aldeia, as pessoas iam lá a casa ver o presépio, o meu presépio.
E este presépio continua como uma herança viva dentro de mim. Foi ele
que me fez fazer os presépios com os meus filhos. Foi ele que me ajudou a
interpretar e dar um sentido ao mundo. Quando vejo um presépio, é sempre esse
primeiro presépio que vejo, mesmo que já não tenha musgo, nem céu estrelado e
tudo se cinja a uma Sagrada Família frugal e abandonada. Nessa hora, a memória
ateia-se e revejo o labor desse consumado não crente, que a morte levou há
muito, a pôr o musgo, a desenhar caminhos, a inventar um céu azul sobre o
milagre. Quando, na noite da Consoada, chega a meia-noite, eu olho o Menino e
Ele diz-me: sim, o teu pai continua a trabalhar, o teu primeiro presépio está
outra vez pronto.
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