Margaret Baird - School Days (1967) (ver aqui)
Projecta-se a extensão da escola a tempo inteiro, já em vigor no 1.º ciclo, até ao 9.º ano de escolaridade. Os alunos dos 2.º e 3.º ciclos terão a possibilidade de permanecer na escola onze horas. Onze horas, já imaginou? Como acontece sempre com este tipo de medidas, são aduzidas razões louváveis para a sua justificação. Necessidade de fornecer um currículo cultural e desportivo mais amplo e responder às necessidades das famílias, cujos horários de trabalho não lhes permitem cuidar dos filhos. Olhemos, contudo, para o facto em si mesmo: as crianças e jovens estarão formalmente institucionalizados durante onze horas por dia.
Que sociedade é esta que quer as novas gerações, tantas horas diárias, sob uma das mais formais institucionalizações? É uma sociedade que deixou de gostar dessas novas gerações, que as vê não como uma promessa de futuro e de renovação, mas como uma ameaça perigosa à ordem (aquela ordem que impõem horários de trabalho cada vez maiores), ameaça essa que tem de ser contida pela institucionalização. A escola a tempo inteiro é - por nobres que sejam as intenções, e eu desconfio dessa nobreza, pois há nela demasiada engenharia social e produção do Homem Novo - uma punição das crianças e dos jovens pelo simples facto de existirem.
Em vez de criar condições para que, crianças e jovens, tenham, ao lado do tempo escolar, um tempo de vida informal e espontâneo, a nossa sociedade pretende replicar em cada escola o tenebroso panóptico de Bentham. Uma hipervigilância daqueles que são vistos como uma ameaça perigosa da nova ordem social. O que essas crianças e esses jovens precisam não é de mais tempo na escola. Precisam de mais tempo com os pais e precisam de mais tempo para elas próprias interagirem de forma não institucional. A escola a tempo inteiro é um sintoma que deve ser lido em correlação com a baixa demografia. É o símbolo do rancor social perante a desordem que um neo-nato introduz na textura do mundo e dos interesses da gerações existentes. A escola a tempo inteiro é o sinal da terrível doença que nos está a atingir.
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