Benjamín Palencia - Figuras (1932)
Quando olhamos para o passado, descobrimos facilmente as diversas figuras que a história foi tomando. A Antiguidade Clássica Grego-Latina, a Idade Média, o Renascimento, as Luzes, etc. Estas figuras são o resultado de processos de desfiguração - nos quais uma figura anterior perde os contornos - e de configuração - pelos quais uma nova figura nasce e amadurece, precisando os seus traços. Isto percebe-se facilmente, pois olhamos para trás, para o que a história perfez e desfez. A grande dificuldade é compreender a figura que tem o tempo que nos foi dado a viver. As forças de desfiguração e as de configuração confundem-se ante o nosso olhar. Pior, o nosso desejo, ao projectar-se sobre o mundo em busca de satisfação, confunde o nosso olhar, pois sob o desejo de satisfação opera o medo de que o trabalho de desfiguração nos roube a nossa fonte de prazeres e o trabalho de configuração traga aquilo que em nós semeará dor. Toda a nova figura é uma ameaça.
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