Jorge Colaço - Batalha de Ourique
Existe um problema interno ao
mundo islâmico, por razões de ordem religiosa, guerras terríveis entre xiitas e
sunitas. E ao mesmo tempo uma consciência muito aguda de que o Ocidente
representado pela Europa está em declínio, sentem a nossa fraqueza enquanto
potência mundial e jogam o jogo que sempre se jogou na Humanidade, os mais
poderosos, ricos, os mais empreendedores, os mais guerreiros, os mais
violentos, têm tendência a impor a sua lei. (Eduardo Lourenço, ver aqui)
Por fim alguém disse claramente o que há para dizer. No mundo
muçulmano há não só a consciência do declínio da Europa como a ambição de impor
a essa Europa a cosmovisão islâmica. Este é o principal problema que afecta a
Europa e não o défice estrutural dos países do Sul ou mesmo as desigualdades
sociais. Tanto um como as outras são importantes, mas, perante uma civilização
que, apesar de científica e tecnologicamente atrasada, tem um forte dinamismo
demográfico, riqueza material e ambição de conquista, as questões do declínio
ocidental e da sua crescente impotência são absolutamente decisivas a médio e a
longo prazo.
O declínio europeu - esse declínio que constitui uma janela de
oportunidade para o avanço do Islão - é marcado pela decadência demográfica,
pelos sentimentos de exclusão nacionalista, os quais pululam na Europa e
arrastam consigo conflitos entre os países europeus, e pela destruição do pacto
social interclassista proveniente da segunda grande guerra, destruição motivada
pela incidência crescente da ideologia liberal nas decisões europeias. Estes
factores, porém, são apenas o resultado de um outro factor que, devido às
nossas crenças modernas e iluministas, deixámos de ver: a decadência do
cristianismo no terreno social da Europa.
O problema do declínio da Europa é, em primeiro lugar, uma questão
religiosa, resulta do contínuo apagamento de um dos pilares - juntamente com a
antiguidade grego-latina e a ciência moderna - que forma a nossa cultura, isto
é, o cristianismo. E é o vazio deixado por este que está a abrir profundas
brechas na Europa, por onde entram não apenas ideologias destruidoras dos
consensos sociais e nacionais necessários como as pretensões daqueles que
querem substituir o vazio deixado pelo cristianismo pela submissão a uma outra
religião. O pior de tudo isto é que muitos europeus - onde se encontra uma
parte substancial de uma classe política leviana entretida com as dívidas, as
regras, a mercearia - não reconhece o problema e aqueles que o reconhecem estão
longe, muito longe de saber lidar com ele.
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