Milton Avery - Summer Reader (1950)
Os EUA são pródigos em movimentos estranhos. Este é mais um. Jovens universitários estão a pedir que os protejam do conteúdo de certos livros que consideram perigosos. Estes livros, em geral, são as grandes obras de literatura (ler aqui). A tese que é arguida pela psiquiatra Manuela Correia, no artigo do Público, é o da infantilização da sociedade. É verdade, as sociedades ocidentais, com a norte-americana em destaque, estão cada vez mais infantilizadas.
Há, todavia, neste tipo de movimento, dois sinais muito preocupantes. Em primeiro lugar, o facto da cultura superior - no caso, a grande literatura - se tornar ameaçadora para os universitários. Isto aponta para aquilo que a Universidade se está a tornar - ou pode vir a tornar - sob as exigências dos alunos, hoje, segundo a cartilha económico-política em vigor, vistos como clientes. E os clientes, como se sabe, têm sempre razão.
Em segundo lugar, esta comportamento reflecte o crescimento da intolerância. Esta atitude, embora menos espectacular, não é qualitativamente diferente dos ataques ao património cultural perpetrados pelo dito Estado Islâmico. Também os militantes deste se queriam proteger - a eles e à humanidade - daquilo que consideram um perigo. A ameaça ao Iluminismo - naquilo que ele tem de mais positivo e criador - não vem só de fora do Ocidente. Também aqui as forças obscuras operam para fazer voltar o homem ao estado de menoridade.
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