Nadir Afonso - Lisboa
Um dos poderes da arte é o de revelar, através daquilo que visível, o invisível. Há neste poder qualquer coisa que o assemelha à religião, na qual também se manifesta o invisível. Uma experiência desse poder de revelação encontra-se no trabalho de Nadir Afonso sobre a cidade (ver aqui). A longa meditação do pintor sobre os centros urbanos acaba por tornar visível aquilo que os sentidos não captam. Podemos ler estas obras sobre múltiplas cidades como uma espécie de estilização daquilo que a experiência sensível capta. Mas se perdermos algum tempo a olhar, começa a emergir na consciência uma outra possibilidade. O que vemos não é o que fica como resultado de um trabalho de abstracção da realidade, mas uma outra coisa de natureza completamente diferente. O que Nadir Afonso revela é a condição de possibilidade (um a priori ou uma estrutura transcendental) da cidade, não aquilo que deriva dela, mas aquilo do qual a cidade deriva. O que descobrimos é o conceito invisível, agora sob a forma pictórica, que organiza a visibilidade do espaço arquitectónico e do espaço social. O que descobrimos é a ideia da qual a cidade é o corpo onde essa ideia encarnou.
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