George Grosz - Crepúsculo (1922)
Talvez estejamos em pleno crepúsculo. Estamos metidos em problemas que não sabemos resolver, como o das pessoas que acham sensato fazer-se explodir para matar inocentes e ter propaganda para a sua causa, além das virgens regulamentares no paraíso. Temos pouca vontade de trazer gente nova ao mundo. Deixamos que as nossas sociedades, enquanto os políticos discutem décimas do PIB, se vão tornando cada vez mais desiguais e com menos motivos para as pessoas se sentirem como fazendo parte de uma comunidade de destino. Desprezamos os fundamentos da cultura que nos trouxe até aqui. O diagnóstico não parece muito animador. Perante nós, nesta hora crepuscular, perfilam-se duas possibilidades. Continuar o processo em que estamos a ser arrastados há décadas, fingir que nada se passa e que tudo acabará por se resolver. Outra possibilidade é reagir. Também aqui se abrem duas possibilidades. Reagir em pânico e escolher o pior do remédios ou reagir a partir de uma reinterpretação dos fundamentos da nossa cultura e dos valores centrais dela, dos valores que preservam a liberdade dos indivíduos e a solidariedade entre eles, isto é, dos valores que permitem o dinamismo e a coesão das sociedades civilizadas e nas quais vale a pena viver. Esta hora crepuscular vai obrigar-nos a escolher, mesmo que finjamos não ter nada para escolher.
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