Paul Gauguin - La recogida del heno (1888)
Olhar este quadro de Gauguin, tendo em consideração o ano da sua execução, abre no espectador uma vertigem. Não me refiro aqui à experiência estética em si mesma, mas à percepção do tempo e da história. Um olhar demasiado centrado no que se manifesta acabará por ficar preso à descrição etnográfica da vida nos campos em finais do século XIX. Se transportarmos, porém, a nossa experiência descobrimos, de imediato, que, na história que se desenrola no quadro, falta a principal personagem de uma cena rural de hoje. Falta a máquina. Tudo no quadro de Gauguin se inscreve num mundo que já tinha terminado. A luminosidade da pintura oculta a sombra que cresce sobre esse mundo, mundo tradicional movido apenas pelo desejo e a necessidade dos homens e o labor dos animais. Podemos imaginar, ao determo-nos nas figuras que parecem descansar da faina, que não é a necessidade de poupar a energia física que as tolhe mas o estranho ruído da maquinaria que, vindo do futuro, cai sobre elas. Olhamos o quadro e uma vertigem nasce em nós, a vertigem gerada na irrupção de um mundo no seio vazio de um outro.
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