Giorgio de Chirico - O retorno de Ulisses (1968)
Este quadro de Giorgio Chirico lembrou-me um romance de Xavier de Maistre, escrito em 1794, Voyage autour de ma chambre (Viagem à volta do meu quarto). O romance possui um fundo autobiográfico. De Maistre, enquanto jovem oficial, esteve em prisão domiciliária durante seis semanas. A obra, no entanto, constitui uma paródia à narrativa das grandes viagens. É também esta ironia relativa aos trabalhos de retorno de Ulisses à pátria que encontramos no quadro de Chirico, onde essa viagem pelo mar alteroso aparece representada dentro de casa. Para além da ironia, há contudo uma meditação, uma meditação melancólica, em ambas as obras, sobre a natureza da viagem. Por norma, vê-se a viagem como uma aventura. Isso, porém, oculta aquilo que a viagem faz: torna doméstico aquilo que é estranho. Viajar não é mais do que um exercício de domesticação, de oclusão no lar, do espaço desconhecido. Não há aventura que não se passe em casa.
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