(daqui)
Falemos em sintomas da nossa actual - e, aparentemente, cada vez mais inevitável - decadência. Não, não vou falar sobre economia ou sobre as instituições políticas. Estas são um reflexo de um mal bem mais profundo. Dois textos do Público ajudam a balizar a questão. Em primeiro lugar, a nossa demografia. Em 2014, Portugal teve a mais baixa taxa de fertilidade da União Europeia. Registou também a maior queda de fertilidade entre 2011 e 2014 (ver aqui). Não vale a pena derramar muito sobre o assunto. Sem novas gerações, não há renovação, nem iniciativa, nem espírito criativo. Somos uma sociedade envelhecida e, como tal, completamente na defensiva. O velho do Restelo tornou-se o nosso arquétipo.
Este dado é fundamental, mas há ainda um outro sintoma tão ou mais preocupante. Margarida Gaspar de Matos, em entrevista ao Público, diz o essencial. E o essencial é a falta de autonomia dos adolescentes portugueses. Há um excesso de ligação à família. Esta ligação tem, geralmente, a marca da dependência. Num tempo em que a iniciativa e a criatividade são essenciais para as sociedades poderem subsistir no mundo globalizado, as nossas novas gerações são educadas para a dependência, para a protecção, para a incapacidade de assumir riscos e tomar o seu destino nas próprias mãos. Margarida Gaspar de Matos diz que esta falta de autonomia é assustadora. É.
O que nos dizem estes dois sintomas conjugados? Dizem-nos que, pura e simplesmente, estamos a desistir, que não queremos enfrentar a realidade. Não nos reproduzimos e não queremos assumir completamente a responsabilidade de gerir autonomamente a nossa existência. Podemos falar da cultura da inveja, podemos falar do novo-riquismo saloio de certos grupos sociais, podemos perorar sobre uma cultura paupérrima, mas isso ainda é secundário. O essencial, o buraco escuro onde nos estamos a afundar, está na natalidade e na educação super-protectora das novas gerações. A continuar assim, quanto tempo ainda nos resta com um arremedo de independência?
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