Nicolas de Staël - Futbolistas (1952)
Sempre que há acontecimentos desportivos com grande impacto mediático - e só têm impacto mediático porque interessam às pessoas - ouve-se um coro de imprecações contra a suposta alienação que esse acontecimento traz. Na verdade, tudo isto não passa de um equívoco. A pertença desportiva pode ser tanto como a pertença religiosa, pertença política ou outro tipo de pertenças, pode ser, dizia-se, um elemento estruturante da identidade pessoal. Em vez de representar uma forma de estranhamento (alienação) a si mesmo, pode significar uma estrutura de solidificação da identidade e de descoberta de si. O facto do fenómeno desportivo - seja através do futebol como na Europa, na América Latina e outras partes do mundo, seja através de outras modalidades - mover tantas pessoas é um sinal de que ele oferece um nível de pertença de que elas sentem necessidade, como se as estruturas identitárias fundadas na religião e na política, com as suas dimensões salvíficas, fossem incapazes de preencher a totalidade de respostas identitárias que os indivíduos, na sua generalidade, necessitam. O que é curioso é que esta identidade desportiva assenta na incerteza, na sorte, no acaso, na precariedade da glória, tudo factores inerentes ao jogo. Uma identidade sempre e constantemente desafiada e posta à prova. E é esta provação contínua, composta por vitórias e derrotas, que reforça a identidade, através da composição de narrativas onde sobressai a gesta dos nossos e a malevolência dos outros, tudo fruto de uma imaginação activada pelas incertezas do jogo. E é deste desafio colocado pela incerteza que a identidade dos indivíduos - de muitos, não de todos, claro - também se alimenta, se estrutura e se solidifica.
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