Marcel Duchamp - A partida de xadrez (1910)
O xadrez sempre me fascinou. Não pelas qualidades que exige. Sentido estratégico, capacidade de antecipar o pensamento do adversário, poder combinatório da mente. Tudo isso, por valioso que seja, está longe de explicar o meu fascínio. O que me espanta no jogo é o seu poder negativo. O jogador esquece-se do mundo e substitui o império da acção por aqueles movimentos pré-anunciados das peças. O sortilégio do xadrez não está nele ser uma alegoria da vida, do confronto que esta suscita. Reside, pelo contrário, dele ser uma negação dessa mesma vida, uma suspensão do curso normal dos acontecimentos, um misto de eternidade e morte, se é que uma é diferente da outra. [Confissões do funâmbulo Américo de la Torre - 2]
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