A minha crónica no Jornal Torrejano.
Um artigo do jornal Público
dava conta de um estudo da psicóloga experimental portuguesa Ana Guinote
(University College de Londres) sobre o poder. Uma das evidências da
investigação é que a correlação entre inteligência e ocupação de lugares de
poder é fraca. Para ocupar lugares de poder mais importante do que ser
inteligente é parecer inteligente. Também a competência técnica não é uma
qualidade fundamental para se ocupar o poder. É muito mais importante parecer
competente do que sê-lo efectivamente. Poder-se-á dizer que o poder – seja
político, empresarial ou outro – é um lugar de aparências e que a sua conquista
depende mais da representação teatral do que da posse efectiva de capacidades
intelectuais e técnicas.
Se as capacidades cognitivas não são um factor central na
conquista e exercício do poder, este não depende apenas da mera aparência ou da
representação teatral. Há capacidades e traços de carácter que estão, segundo o
estudo, ligados ao poder. Assertividade, decisão, autoconfiança, determinação,
optimismo, carácter dominador e visão clara fazem parte das características das
pessoas, homens ou mulheres, ligadas ao poder. Dito de outra maneira, alcançar
o poder e mantê-lo depende muito mais da vontade do que da inteligência teórica
ou mesmo prática. Espalhou-se na cultura ocidental, devido à hipervalorização
da inteligência e da competência técnica, um equívoco. Este equívoco leva-nos a
pensar que o mundo seria melhor se fosse governado por pessoas muitos
inteligentes e de grande competência.
A inteligência e a competência não são, por si mesmas,
inimigas do poder, mas são inúteis ou mesmo perigosas se não forem acompanhadas
pela vontade decidida, determinada, autoconfiante e centrada em objectivos
claros. Na verdade, o exercício do poder tem mais a ver com a firmeza e
determinação do pastor na condução de um rebanho do que com a elaboração de
teorias explicativas do mundo ou a invenção de dispositivos técnicos. Isto
ajuda-nos a perceber por que razão muitos actos eleitorais têm o resultado que
têm. O eleitorado confia, ainda que inconscientemente, na pessoa assertiva e
determinada, mesmo que mentirosa e egoísta, e suspeita da pessoa inteligente
ou, como disse numa entrevista também ao Público
o psicólogo Kevin Dutton, “as sociedades sempre precisaram de pessoas
impiedosas, charmosas e que mentem”. O poder é o resultado da vontade de poder
e não de outra coisa qualquer.
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