sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Cadernos do esquecimento 49 Desolação

Johan Hagemeyer, “Corrosion” - Death Valley from Zabriskie Point, 1940

É possível antecipar o que será a Terra quando a vida, toda a vida, dela tiver desaparecido. Não será a morte que reinará, pois a morte alimenta-se da vida, mas a desolação. Esta nascerá do mais terrível dos esquecimentos, aquele que não terá remissão, pois não haverá já quem tenha poder  para se esquecer. Será o esquecimento sem sujeito desse esquecimento. A desolação não será, nessa hora, o resultado da devastação e do desamparo. Num lugar reduzido a processos mecânicos, não há destruição nem construção, mas apenas a resultante das forças em presença. Também não se poderá falar em desamparo, pois não há o que busque amparo. A desolação será o sinal de um ser sem sentido, de um puro existir que a si se desconhece e nesse desconhecimento existe como não existisse.

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