quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

O progresso moral da humanidade (10)

Wilhelm Brasse, 14 year old Polish girl, Auschwitz concentration camp, 1942

No olhar da rapariga não há medo nem submissão, apenas a surpresa do destino e o desafio que habita nos olhos de quem tem catorze anos. O campo de concentração nazi ou o gulag soviético são contraexemplos demasiado evidentes para que se possa crer num progresso moral da humanidade. Perante aquele rosto que se oferece, numa inocência sem pudor, ao registo fotográfico, a razão quase se deixa arrastar, num sentido contrário à crença iluminista no progresso moral, para uma visão que substitui a evolução trazida pelo tempo por uma degradação moral contínua da humanidade. A razão resiste à tentação da Idade de Ouro, mas não encontra já um lugar para ancorar a esperança de que o respeito pelo outro, tomado este na sua alteridade radical, se torne a norma e não a excepção na convivência entre os seres humanos. Olhamos aquela rapariga presa ao risco que separa a vida da morte e a vivacidade dos seus olhos abrem o espírito do espectador para o grande oceano da desolação.

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