As novas demissões no governo de António Costa, de onde sobressai a do poderoso ministro Pedro Nuno Santos, mostram um executivo à beira da implosão, que nem um primeiro-ministro hábil na manobra política parece capaz de suster. A maioria absoluta, dispensando os socialistas de negociar continuamente as soluções, está a funcionar como um revelador eficaz da cultura do partido que ocupa o poder. Três notas sobre essa cultura.
1. Do ponto de vista político, os socialistas estão esgotados. Nada têm para oferecer ao país enquanto solução para a situação em que nos encontramos. Este nada tanto pode ser encarado de uma perspectiva de esquerda como de direita. Nem um estado mais eficaz no assegurar dos mecanismos que permitam uma maior igualdade social, nem a capacidade de criação de um ambiente propício ao mercado e capaz de atrair fortes investimentos para o país. Por norma, os socialistas louvam-se na sua aptidão ideológica para compatibilizar ambos os objectivos. O que se passa, porém, mostra-os incapazes seja do que for.
2. A relação dos socialistas com o poder é conflituante com uma sociedade que tem uma capacidade de escrutínio constante. Os socialistas, ao longo de décadas, foram desenvolvendo uma cultura de domínio das instituições, como modo de manter o poder e de controlo das sucessivas situações desagradáveis (um eufemismo para designar os diversos problemas com a justiça ou com a moral pública que diversos actores socialistas enfrentam). Essa capacidade desapareceu no novo mundo das redes sociais. Qualquer político que se aproxime do poder fica na mira e, caso haja a mais leve suspeita, tornar-se-á um alvo contínuo, até que caia. Só uma sobranceria inominável, produtora de uma cegueira persistente, explica que o primeiro-ministro escolha ou aceite escolhas de pessoas que serão alvos fáceis a abater.
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