Umberto Boccioni - A Futurist Evening in Milan (1911)
Talvez tivesse sido com o Futurismo que a humanidade ocidental celebrou de forma mais perspicaz a sua natureza moderna. Se a rejeição do passado, inerente à própria denominação do movimento, é um dos seus traços característicos, a sua dimensão profética derivou-lhe do culto da velocidade, da máquina e das grandes metrópoles. Aquilo que já era então visível tornou-se um destino consumado. Passado mais de um século do início do movimento, agora que a generalidade dos homens vivem em metrópoles desmedidas, que o dinheiro e a comunicação circulam à velocidade da luz, que os próprios corpos - homens e mercadorias - se deslocam, transportados por máquinas cada vez mais velozes, por que motivo olhamos para tudo isso de forma muito menos celebratória e uma estranha nostalgia se apodera da alma? Que nostalgia é essa? Não será a da ausência de máquinas, nem do passado que não vivemos. Não será sequer a nostalgia dos campos perante o horror da vida urbana. A nostalgia nasce de um desejo de lentidão. A velocidade cansa-nos e torna tudo mais superficial. Passamos pelas coisas e elas logo desaparecem. Abre-se assim, no fundo da alma, um vazio. É daí que nasce a nostalgia pela lentidão, e a crença que só ela - essa lentidão que o amor exige - pode preencher.
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