Pablo Picasso - Mujer con casco de pelos (1904)
Por que razão Portugal não funciona? Esta triste história (uma entre milhões que ocorrem todos os dias) contada por um jornal finlandês explica tudo. O desprezo, por parte das elites nacionais, pelas regras gerais e universais e o recurso imperativo ao sabe quem eu sou? é, ao mesmo tempo, causa, sintoma e símbolo da nossa inultrapassável pobreza - material e de espírito -, da nossa ausência de qualquer futuro digno. O problema de Portugal não é o da falta de dinheiro para investir, não é a diminuta dimensão do seu mercado interno, não é a ausência de qualificação dos seus trabalhadores e quadros, não é a falta de espírito de abnegação das pessoas. O problema de Portugal está todo ele na paroquialidade das suas elites, no rancor com que olham as regras gerais, universais e neutras, na arrogância com que afirmam um direito privado contra a regra universal, no despudor com que o privilégio se afirma contra o direito comum. O sabe quem eu sou? é a mais desprezível forma de ataque com que uma elite inculta e saloia esconde a sua contumaz incompetência sob a capa da prepotência. Não se pense, contudo, que este ataque às elites indígenas é o reverso do louvor das virtudes populares. Não é, porque, como se sabe, assim que um indivíduo ganha meia dúzia de tostões que lhe permitem sair da miséria acha-se, de imediato, no direito de atirar à cara dos outros o inevitável sabe quem eu sou? O problema é que sabemos bem de mais. E aquilo que sabemos não nos dá qualquer esperança de sair do lixo onde estamos atulhados. Há muito que descobri que há problemas que não têm solução.
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